terça-feira, 9 de setembro de 2008

Para se pensar................


O ensino médico merece respeito
Por Antônio Carlos Lopes* Dentro da política de governo, surgiu recentemente uma parceria entre os ministérios da Educação e da Saúde para cuidar da educação médica. Com fundo ideológico, esta parceria está longe de contemplar políticas públicas eficientes. Depois da interferência do Ministério da Saúde, chama a atenção o estímulo dado às escolas médicas para centrarem o ensino na rede pública (SUS). Esta situação só pode ser apregoada por quem não conhece o atendimento médico na rede pública e desconhece os princípios do ensino médico, que nesta visão é tratado com desrespeito. É evidente que o ensino deve ser baseado na comunidade, mas desde que os seus princípios pedagógicos e sua metodologia sejam respeitados. O aprendizado médico na rede pública atual só serve para mostrar ao aluno o que não fazer na prática médica, não por culpa dos médicos, mas pela estrutura deficiente. Em relação à Residência Médica, pós-graduação lato sensu, nota-se seu deslocamento progressivo para o Ministério da Saúde, como fica claro em matérias recentemente veiculadas pela imprensa. Quem tem se manifestado sobre o assunto não é o Ministério da Educação, e sim o da Saúde. Aliás, é o que tentaram fazer durante o período em que fui Secretário Executivo da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), e só não conseguiram em função de uma política importante da própria Comissão, em busca da excelência e da equidade regional. A incompetência da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde fica evidente quando 250 bolsas de Residência Médica para o Programa de Saúde da Família e Comunidade foram distribuídas aos programas correspondentes, criados em situação de emergência no Norte e no Nordeste. As bolsas tinham valor maior que dos outros programas de Residência Médica, e apenas 25% foram ocupadas, com inúmeras queixas dos residentes. É necessário que as especialidades médicas estejam presentes e que a Residência Médica, nos moldes em que ocorre nas políticas de países de primeiro mundo, contemple todas as regiões. Contudo, durante os quatro anos em que estive na Comissão, ao contemplar as regiões menos favorecidas e carentes de Residência em certas especialidades, nossa surpresa foi que as vagas jamais foram totalmente preenchidas. Isso nos mostra que a falta de infra-estrutura, de recursos materiais mínimos e de preceptoria são incompatíveis com a Residência Médica, levando às vagas ociosas. É necessário que a incompetência não seja o critério de escolha para cargos importantes, pois isto contempla a postura ditatorial que satisfaz os insensatos. Torna-se, portanto, fundamental que quem fale em ensino médico o exerça em sua plenitude, e não tenha título de professor somente na parede do gabinete.
(*) Antônio Carlos Lopes é professor titular da disciplina de Clínica Médica da Unifesp/EPM. Artigo publicado no Jornal de Brasília, na edição de 08/09/08.

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