
Laurie Garrett *
A primeira evidência da transmissão da gripe suína foi nos Estados Unidos em setembro passado, quando um garoto de 10 anos no Texas foi infectado. Um segundo incidente que causou alarme também ocorreu nos EUA, em que um vírus comum H1N1 desenvolveu a capacidade de resistência ao Tamiflu, primeira droga usada no combate à gripe.
O vírus afligiu dois indivíduos no sul da Califórnia e no Texas em meados de março. Quem vive no México deve, então, perguntar-se por que a América está apontando o dedo para "nós". É o mesmo que aconteceu em 1918, quando as pessoas chamaram uma forma particular do vírus da influenza de “gripe espanhola”, que na verdade passou pelo Kansas antes de afetar a Europa com o movimento de tropas durante a 1ª Guerra Mundial.
Não é bom falar de fronteiras. Antes de culparmos o México, devíamos saber que o México poderia fazer o mesmo contra nós. Houve evidência incomum de febre em março no México, mas nenhuma particular de gripe suína antes de abril. Nos EUA, também tivemos casos isolados e não demos muita atenção até que vimos um enorme número de casos na Cidade do México e em Nova York.
A gripe é mais contagiosa pré-febre, antes de as pessoas infectadas começarem a mostrar os sintomas. Muitos números no México e EUA estão faltando. Em Nova York achávamos que tínhamos um problema contido numa escola no Queens. Mas a cidade tem muitos cidadãos sem seguro-saúde que não vão ao médico só porque tiveram uma febre. Assim, é provável que estejamos perdendo casos de pessoas que não procuraram tratamento, pelos custos da saúde ou o tempo que terão de se afastar do trabalho.
A Organização Mundial da Saúde está cautelosa em afirmar que a ameaça é mundial, porque significa dizer que todo o mundo tem de tomar as precauções que já estamos tomando nos EUA – o que muitos países pobres devem achar difícil de adotar. O dado de que precisamos agora é o quão transmissível e letal é o vírus. Outra pergunta seria por que é mais letal no México do que nos EUA.
Outro ponto relevante é o quão típico é ter uma febre em circulação com elementos genéticos de três espécies: pássaros, porcos e humanos; quão frequentemente isso tem sido visto e por quê. A resposta é que isso nunca aconteceu antes.
O primeiro caso de gripe suína ocorreu em setembro nos EUA e o indivíduo estava lidando diretamente com porcos. Também é importante saber sobre pássaros migratórios e se eles estão em proximidade de porcos ou humanos. No dia 20 de dezembro, divulgou-se um boletim sobre a existência de uma versão do H1N1 não tratável com Tamiflu. Se vemos uma recombinação com a forma resistente do medicamento, é hora de se lançar um alerta pandêmico.
A maioria das infecções e mortes ocorreu em jovens adultos e adolescentes. Por quê? No caso da África não é pergunta retórica quando se vê que 20% da população adulta têm aids. A juventude é a prioridade do vírus.
Os americanos estão mais bem preparados hoje do que antes do [furacão] Katrina. Melhor planejamento, no entanto, não é um processo concluído. Não chegaram ao ponto de o nível de preparação ter metas estabelecidas pelo governo federal. Cada estado tem planos de desastre para gripe pandêmica, mas a saúde pública teve, de modo geral, um orçamento ruim, com ferramentas ruins.
* Bióloga e jornalista de ciência várias vezes premiada (principalmente do diário Newsday), senior fellow do Council on Foreign Relations, autora de A próxima peste – Novas doenças num mundo em desequilíbrio (Nova Fronteira)
Fonte: Jornal do Brasil, 28/4/09
A primeira evidência da transmissão da gripe suína foi nos Estados Unidos em setembro passado, quando um garoto de 10 anos no Texas foi infectado. Um segundo incidente que causou alarme também ocorreu nos EUA, em que um vírus comum H1N1 desenvolveu a capacidade de resistência ao Tamiflu, primeira droga usada no combate à gripe.
O vírus afligiu dois indivíduos no sul da Califórnia e no Texas em meados de março. Quem vive no México deve, então, perguntar-se por que a América está apontando o dedo para "nós". É o mesmo que aconteceu em 1918, quando as pessoas chamaram uma forma particular do vírus da influenza de “gripe espanhola”, que na verdade passou pelo Kansas antes de afetar a Europa com o movimento de tropas durante a 1ª Guerra Mundial.
Não é bom falar de fronteiras. Antes de culparmos o México, devíamos saber que o México poderia fazer o mesmo contra nós. Houve evidência incomum de febre em março no México, mas nenhuma particular de gripe suína antes de abril. Nos EUA, também tivemos casos isolados e não demos muita atenção até que vimos um enorme número de casos na Cidade do México e em Nova York.
A gripe é mais contagiosa pré-febre, antes de as pessoas infectadas começarem a mostrar os sintomas. Muitos números no México e EUA estão faltando. Em Nova York achávamos que tínhamos um problema contido numa escola no Queens. Mas a cidade tem muitos cidadãos sem seguro-saúde que não vão ao médico só porque tiveram uma febre. Assim, é provável que estejamos perdendo casos de pessoas que não procuraram tratamento, pelos custos da saúde ou o tempo que terão de se afastar do trabalho.
A Organização Mundial da Saúde está cautelosa em afirmar que a ameaça é mundial, porque significa dizer que todo o mundo tem de tomar as precauções que já estamos tomando nos EUA – o que muitos países pobres devem achar difícil de adotar. O dado de que precisamos agora é o quão transmissível e letal é o vírus. Outra pergunta seria por que é mais letal no México do que nos EUA.
Outro ponto relevante é o quão típico é ter uma febre em circulação com elementos genéticos de três espécies: pássaros, porcos e humanos; quão frequentemente isso tem sido visto e por quê. A resposta é que isso nunca aconteceu antes.
O primeiro caso de gripe suína ocorreu em setembro nos EUA e o indivíduo estava lidando diretamente com porcos. Também é importante saber sobre pássaros migratórios e se eles estão em proximidade de porcos ou humanos. No dia 20 de dezembro, divulgou-se um boletim sobre a existência de uma versão do H1N1 não tratável com Tamiflu. Se vemos uma recombinação com a forma resistente do medicamento, é hora de se lançar um alerta pandêmico.
A maioria das infecções e mortes ocorreu em jovens adultos e adolescentes. Por quê? No caso da África não é pergunta retórica quando se vê que 20% da população adulta têm aids. A juventude é a prioridade do vírus.
Os americanos estão mais bem preparados hoje do que antes do [furacão] Katrina. Melhor planejamento, no entanto, não é um processo concluído. Não chegaram ao ponto de o nível de preparação ter metas estabelecidas pelo governo federal. Cada estado tem planos de desastre para gripe pandêmica, mas a saúde pública teve, de modo geral, um orçamento ruim, com ferramentas ruins.
* Bióloga e jornalista de ciência várias vezes premiada (principalmente do diário Newsday), senior fellow do Council on Foreign Relations, autora de A próxima peste – Novas doenças num mundo em desequilíbrio (Nova Fronteira)
Fonte: Jornal do Brasil, 28/4/09
Nenhum comentário:
Postar um comentário