Gilson
Carvalho[1]
Lamentavelmente temos grandes problemas
de saúde e de serviços de saúde. Isto afeta o público e privado. Bem verdade
que mais sofre o público de deficiência. Entre outras causas, tem o público que
trabalhar com menos da metade que o per capita do setor privado, com outras
obrigações relativas à saúde pública.
Na saúde no mundo e
principalmente no Brasil temos uma confluência de eventos onerosos que nos
acostumamos a denominar de transições. Podemos citar algumas delas. 1)Aumento
na expectativa de vida da população quando os idosos necessitam de 40% a mais
de ações e serviços;2) A convivência ao mesmo tempo de doenças antigas e novas
epidemias como dengue, AIDS, acidentes de trânsito, uso indevido de drogas, obesidade
etc; 3) A crise nutricional onde nunca se comeu tanto, tão mal e
descontroladamente; 4) A explosão da inovação tecnológica em saúde, muito
benéfica por vezes e extremamente maléfica por outras, como quando fundamentada
exclusivamente no interesse econômico;5)
A cultura de consumo de ações e serviços de saúde que nos leva a demandar cada
vez mais e melhores serviços de saúde, uns necessários e essenciais e outros
desnecessários e induzidos pelos que lucram e levam vantagens com a oferta,
cada vez maior, de produtos e serviços.
Antes a avaliação ruim era
apenas dos serviços de saúde pública, sempre criticados por motivos reais e
outros culturais, como o conceito de que nada que é público presta! Hoje esta
avaliação, nem sempre boa, tem acontecido com os serviços públicos e privados.
Não consola, nem explica. Ajuda na avaliação das causas e busca de soluções.
No público cometeu-se, segundo
alguns, “a loucura utópica de colocar na Constituição Federal que nós todos os
cidadãos éramos iguais perante o estado e todos, independente do poder
econômico teríamos direito a cuidados integrais de saúde”. Defendi e defendo
até hoje esta loucura utópica. A pretensa utopia é a proposta de garantir o
tudo para todos e que resgatou vida e cidadania para milhões de brasileiros que
saíram da condição de indigentes para cidadãos plenos. Complicou? Eram cerca de
100 milhões de brasileiros que a nada tinham direito e a eles foram abertos os
serviços de saúde em base de igualdade com quem sempre teve acesso por ter
previdência ou poder aquisitivo para custeio direto ou através de planos e seguros
de saúde.
Existem saídas que precisam ser
somadas e que não podem ficar apenas no discurso de falta de dinheiro, ainda
sabendo da importância dele. Mas, além dele tem que mudar o jeito de fazer
saúde com investimento nas pessoas antes que adoeçam (promoção e proteção de
saúde) com participação das pessoas no autocuidado e seguindo as prescrições
que dependam dos indivíduos; melhoras profundas no processo de gestão dos
serviços de saúde com racionalidade, descrição de processo de trabalho, rotinas
técnicas e administrativas e uso massivo da ferramenta informática.
Construir a melhora nos
cuidados com saúde tem que começar pelos primeiros cuidados, ou básicos.
Suficientes e eficientes e como dito, com efetiva e total participação das
pessoas em proteger sua saúde e contribuir ativamente na cura . Mas, não pode
parar no básico. Tem-se que buscar a integralidade, como manda a CF e demandam
as pessoas, com acesso a serviços de média e alta complexidade.
Muita coisa pode ser feita com
estas providências mas o Governo Federal tem que assumir seu papel de maior
financiador do sistema já que ele é a única esfera de governo que pode
arrecadar. Falhou, mais uma vez com a última lei de saúde. Os Municípios, em
geral, estão colocando em média 30% a mais que os mínimos constitucionais obrigatórios.
Isto pode explicar um pouco,
mas não traz a solução. Digo que a solução no ambiente público não é simples e
depende de muita vontade política dos governantes somada ao compromisso social
dos trabalhadores de saúde.
Mãos a obra para os atuais
governos municipais. Muita reflexão e preparo para os que se candidatam.
[1]
Gilson Carvalho - Médico Pediatra e de Saúde Pública -
carvalhogilson@uol.com.br. O autor adota a política do copyleft podendo este
texto ser multiplicado, editado, distribuído independente de autorização.Textos
disponíveis: www.idisa.org.br
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