domingo, 6 de janeiro de 2013

SECRETÁRIO DE SAÚDE: POLÍTICO, TÉCNICO OU HUMANO????


Gilson Carvalho[i]

 

Estamos, mais uma vez, passamos por uma época de descoberta de talentos: quem se ofereceu e quem se escondeu para ser-não-ser Secretário de Saúde nos municípios! Muitos os que se ofertaram e poucos os que se  esquivaram, entre eles os muito, os pouco e os nada competentes. As varáveis de escolha passam ao largo do exclusiva ou principalmente, critério da competência técnica. O mais forte deles é a indicação política partidária ou por escolha do eleito, ou de seus pares ou de seus aliados (até contrariando a vontade do eleito).

Qual é o candidato ideal para ocupar o cargo? Para mim tem-se que atender a uma tríade de critérios essências: o político, o técnico e o humano. Quando estes se fecharem, em maior índice, teremos a pessoa ideal. Já vi escolhas apenas políticas descobrirem excelentes técnicos, mas, o mais comum é desandar na politicagem e politicalha. Já vi escolhas apenas técnicas, lapidarem excelentes políticos, mas o mais comum é desandar na rigidez do tecnicismo. Já vi escolhas de apenas figuras humanas que aprenderam a técnica e humanizaram a política, mas o mais comum é desandar na incompetência técnica e política.

Além disto, existem outras óticas que devem ser analisadas: a legal, a ética e a política. A ótica legal pode limitar a escolha do Secretário de Saúde. No âmbito nacional existem impedimentos expressos na Lei 8080 nos artigos 25,4: “Aos proprietários, administradores e dirigentes de entidades ou serviços contratados é vedado exercer cargo de chefia ou função de confiança no SUS; e no 28, caput: “Os cargos e funções de chefia, direção e assessoramento, no âmbito do SUS, só poderão ser exercidos em tempo integral”.

Há um evidente conflito de interesses em ser dirigente do SUS e de hospitais, clínicas, laboratórios contratados ou conveniados. Quanto ao tempo de dedicação, por mais que o dia tenha 24 horas, a semana 7 dias e o ano 365, o tempo será pouco para que o secretário dê conta das inúmeras demandas de sua função e ainda tenha outras atividades. Todo o cuidado é pouco para que não se deixe de dedicar ao cargo público o tempo legal. Tem-se que ver, na Constituição de cada Estado, na Lei Orgânica do Município e no Código de Saúde se há outras vedações específicas. Existe Estatuto dos Servidores que vedam ao funcionário público, inclusive os comissionados, vínculo ou sociedade em empresas privadas.

Da ordem ética, tem-se que olhar que o dirigente do SUS local é a Autoridade Sanitária que regula, fiscaliza e controla o setor público e privado. Aqui, talvez se delineie um conflito de interesse que pode dar pega para um impedimento de ordem moral. O estar ao mesmo tempo como dirigente público e privado pode gerar conflitos de toda a monta que são do campo da ética e da moral.

Finalmente a ótica política onde o terreno é mais minado ainda. Os ditames da política partidária passam pelos rancores da oposição que vai do ideário, passa pelo grupal e chega ao familiar e ao pessoal.

Da ordem política, tem-se que olhar cada tempo e lugar. Analisar o impacto político local de alguém ser, ao mesmo tempo, operador de uma empresa privada de saúde e do sistema público, SUS, que, pela CF, regula e fiscaliza o privado. No campo político a mais tênue névoa pode virar tornado e tempestade, dependendo do “nervoso” de cada tempo e movimento. Todo cuidado é sempre pouco. E pensar que, muitas vezes, na política, entregam-se valiosos anéis para manter os dedos, mãos e corpo.

Olhar cuidadoso pelas três óticas antes de tomar qualquer decisão e agora quando já decidido e empossado. Andar pelo campo minado da administração política da saúde, mas com o mínimo de segurança. Em caso de aceitação de posição dúbia, ter o permanente cuidado de não pairar dúvida de que haja favorecimentos e conluio de interesses. Sempre ter como norte a missão dos serviços de saúde, públicos e privados de ajudar as pessoas a viverem mais e melhor.

 


[i] Gilson Carvalho – Médico Pediatra e de Saúde Pública – O autor adota a política do copyleft, podendo este texto ser reproduzido, publicado, divulgado, independente de autorização do autor – carvalhogilson@uol.com.br Meus textos encontram-se disponíveis no site www.idisa.org.br – artigos – colaboradores.

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