domingo, 27 de novembro de 2011

As relações entre o Direito e o SUS.

           As relações entre o Direito e o Sistema Único de Saúde ( SUS ) continuam enfrentando grandes desafios. Somos sabedores que o SUS tem muito ainda para avançar no tocante a garantia da integralidade da assistência prestada à população. Apesar dos grandes avanços que conquistamos nos últimos anos com a evolução nas questões relativas ao tratamento da AIDS, transplantes, acesso a medicamentos de alto custo, qualidade do sangue e seus hemoderivados, ainda temos muito a conquistar.

            Agora precisamos lembrar que todos esses avanços e muitos outros que não citei acima, podem ficar comprometidos em função da sustentabilidade econômico-financeira do SUS perante a enxurrada de processos judiciais que invadem diariamente os gabinetes dos gestores, tanto municipais, estaduais e federal.

            Sabemos que o SUS tem como obrigação constitucional o princípio da cobertura universal, isto é aproximadamente 190 milhões de brasileiros, porém essa cobertura necessariamente é desafiada diuturnamente pelos limites de recursos orçamentários, sem contar aqui que o setor saúde produz mais inovações tecnológicas que adicionam quase que obrigatoriamente muitos milhões de reais aos gastos do mesmo, impossibilitando que o mesmo acompanhe tal velocidade.

            Podemos aqui afirmar que muitas vezes são prescritos medicamentos, terapias e procedimentos que não constam nas listas do SUS, assim como alguns desses nem testados ou liberados são dentro do território nacional, além do que e não têm sua eficácia comprovada pelas agências reguladoras, como a ANVISA, assim como para alguns desses tratamentos existem alternativas mais custo-efetivas usualmente já empregadas em nosso país.

            Preocupa-me assim como diversos estudiosos do assunto, a possibilidade de ruptura do financiamento público, pois dessa forma o gestor obriga-se a não levar em consideração as prioridades epidemiológicas de saúde de seu município. Acompanhei diversas situações em que o gestor de saúde na obrigação do cumprimento judicial acaba drenando os recursos públicos para o financiamento de ações de saúde questionáveis sob a base de preceitos técnicos e da ausência de ética coletiva em sua utilização, mas acaba sendo obrigado a cumprir o que determina a lei pelo risco de prisão ou de pagamento de multas milionárias. Somos sabedores que muitos desses processos acabam beneficiando e muito, alguns produtores e mercadores de equipamentos médicos, medicamentos e materiais de saúde e suas redes de lobistas.

            Todos os gestores deveriam na prática seguir uma regra de ouro que diz, precisamos financiar primeiro o que é mais prioritário, ou seja, o conjunto de ações de saúde que venha a beneficiar, em ordem decrescente de prioridades, o maior número de pessoas. Infelizmente com essa avalanche de processos judiciais, o que constatamos diariamente é que os maiores beneficiados são na sua grande maioria pessoas de mais alta renda ou alguns pacientes protegidos por associações de pacientes, pois esses têm mais acesso a informação e ao financiamento de ações judiciais.

            O direito a saúde deve ser suportado pelo orçamento público, e já é conhecido de todos que muitos municípios investem em média, mais de 25% do seu orçamento próprio nas despesas com serviços de saúde, sendo assim pergunto: onde vamos parar com o financiamento judicial de medicamentos e outros serviços em que o valor desembolsado pelo gestor poderia atender uma população significativamente maior e em detrimento disso, estamos a atender um paciente apenas.

            Parece até que a justiça ver o orçamento público como um fonte inesgotável de recursos, porém os administradores públicos tem a eficiência alocativa como uma de suas obrigações. Seria muito importante que a justiça levasse em consideração a prevalência do direito coletivo sobre o direito individual, pois os recursos do SUS são limitados.

            Enfim, algumas propostas já são de conhecimento público, entre elas podemos lembrar que os tribunais vete uma prestação de serviços que não está incluída na tabela do SUS ( medicamentos ou procedimentos ); negue o acesso aos recursos públicos de uma pessoa protegida por um plano privado de saúde em que a prestação requerida está contratualmente garantida no referido plano e por fim bloqueie o acesso de uma solicitação de financiamento a serviços não essenciais que não são necessários para a saúde de um indivíduo.

            Fica aqui essa discussão para uma reflexão de todos os interessados por um sistema público de saúde de qualidade e para todos, porém de forma equânime.
                                                Douglas Calheiros Machado


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Emendas Populares para a Saúde !!!!

R$ 2,2 bilhões para Emendas Populares - Matéria publicada no blog do deputado Darcísio Perondi.
R$ 2,2 bilhões para Emendas Populares
Municípios deverão realizar audiência pública até 10 de dezembro para decidir onde vão investir os recursos
Blog do Deputado Darcísio Perondi
Com a aprovação do parecer preliminar do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) à Proposta Orçamentária da União para 2012, uma nova modalidade de Emendas foi criada. Pela primeira vez na história os municípios vão participar diretamente da elaboração do Orçamento do ano seguinte. Cada município poderá apresentar uma Emenda Popular, com valores entre R$ 300 mil e R$ 600 mil, dependendo do número de habitantes. Para isso, estarão reservados R$ 2,2 bilhões. As Prefeituras e as Câmaras de Vereadores, juntamente com suas comunidades, terão até 10 de dezembro para encaminhar sua proposta de Emenda. Segundo explicou o deputado Darcísio Perondi (PMDB), um dos dois gaúchos membros da Comissão Mista, todas as Emendas Populares apresentadas pelos Municípios deverão ser voltadas para o setor de saúde. Se os municípios não se manifestarem dentro do prazo, todo o dinheiro será destinado à atenção básica.
Segundo explicou Perondi, os municípios poderão usar os recursos dessas emendas na construção de postos de saúde, aquisição de aparelhos e equipamentos hospitalares, veículos para as equipes do Programa de Saúde da Família, ambulâncias e vans para transporte de pacientes, por exemplo. Perondi ressaltou que as audiências públicas nos municípios precisam ser feitas imediatamente e as atas encaminhadas para a Comissão Mista de Orçamento. “É um grande avanço. Nós abrimos para os municípios a oportunidade de obterem recursos que a comunidade sabe onde devem ser investidos, especificamente na área de saúde. É evidente que a liberação dos recursos depende do Governo Federal. Mas aí será uma outra etapa. O importante é que esses recursos vão ajudar a reduzir o sofrimento das pessoas que precisam de um melhor acesso ao Sistema Único de Saúde – SUS”, afirmou Darcísio Perondi.
A Comissão Mista de Orçamento também aprovou o aumento das emendas individuais dos deputados e senadores, de R$ 13 milhões para R$ 15 milhões. Segundo explicou Darcísio Perondi, por sugestão do PMDB, os R$ 2 milhões adicionais deverão ser obrigatoriamente destinados para estruturação de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS).
Emendas Populares – Municípios vão participar da elaboração do Orçamento de 2012
PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE AS EMENDAS DE INICIATIVA POPULAR – PROPOSTA ORÇAMENTÁRIA DE 2012.
1) Quais são os valores que poderão ser indicados pelos municípios?
Os Municípios de até 50.000 habitantes poderão indicar apenas 1 (uma) emenda de iniciativa popular, de acordo com os seguintes limites:

a) municípios* com até 5.000 habitantes, R$ 300.000,00;
b) municípios* de 5.001 até 10.000 habitantes, R$ 400.000,00;
c) municípios* de 10.001 até 20.000 habitantes, R$ 500.000,00; e
d) municípios* de 20.001 até 50.000 habitantes, R$ 600.000,00.
*estimativa de julho de 2011 do IBGE
2) Quais são as ações em que os municípios poderão aplicar os recursos?
Os recursos deverão ser alocados em subtítulos específicos para cada município, na modalidade de aplicação 40 (municípios), em uma das seguintes ações:
a) 8581 – Estruturação da Rede de Serviços de Atenção Básica de Saúde;
b) 7652 – Implantação de Melhorias Sanitárias Domiciliares para Prevenção e
Controle de Agravos;
c) 10GD – Implantação e Melhorias de Sistemas Públicos de Abastecimento de
água em municípios de até 50.000 habitantes, exclusive de regiões metropolitanas ou regiões integradas de desenvolvimento econômico (RIDE);
d) 10GE – Implantação e Melhorias de Sistemas Públicos de Esgotamento
Sanitário em municípios de até 50.000 habitantes, exclusive de regiões metropolitanas ou regiões integradas de desenvolvimento econômico (RIDE);
e) 10GG – Implantação e Melhorias de Sistemas Públicos de manejo de resíduos sólidos em municípios de até 50.000 habitantes, exclusive de regiões metropolitanas ou regiões integradas de desenvolvimento econômico (RIDE);
f) 8933 – Serviço de Atenção às Urgências e Emergências na Rede Hospitalar.
3) Como deverá ser feita a escolha da ação e onde os recursos serão aplicados?
A deliberação quanto à ação pretendida será feita em audiência pública promovida conjuntamente pela Câmara de Vereadores e a Prefeitura Municipal, com ampla divulgação e participação da sociedade.
4) Depois de feita a escolha em audiência pública quem e como deverá ser feita a formalização da indicação da emenda?
A responsabilidade cabe ao Prefeito que deverá enviar à Comissão Mista de Orçamento da Câmara dos Deputados a ata da audiência, a lista de presença e o Formulário de Emenda de Iniciativa Popular, devidamente preenchido, por meio de SEDEX, com data de postagem de até 10.12.2011, no seguinte endereço:
Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização
Câmara dos Deputados, Anexo Luis Eduardo Magalhães, Ala C, sala T-12, CEP 70.160-900 – Brasília – DF.
5) O que acontecerá se não for observado o procedimento e o prazo para envio e formalização da emenda?
Se os prazos não forem observados, os recursos serão alocados pela CMO na ação 8581 – Estruturação da Rede de Serviços de Atenção Básica de Saúde.
Atenção: se no último dia do envio for feriado municipal ou estadual, a postagem deverá ser feita no dia imediatamente anterior.
6) Meu município já fez uma audiência pública e indicou a aquisição de uma patrulha agrícola ou uma obra não relacionada entre as definidas. Posso enviar a ata por escrito? Ela será aceita?
Não. De acordo com as regras do parecer preliminar o município terá seus recursos aplicados na ação 8581 – Estruturação da Rede de Serviços de Atenção Básica de Saúde.
7) Não estou conseguindo fazer o envio virtual da proposta, posso enviar os documentos impressos para a Comissão de Orçamento? Caso eu não faça o envio virtual, o que ocorrerá?
Não. De acordo com as regras do parecer preliminar o município terá seus recursos aplicados na ação 8581 – Estruturação da Rede de Serviços de Atenção Básica de Saúde.
icon cool Emendas Populares Municípios vão participar da elaboração do Orçamento de 2012 Resolvemos fazer a indicação através do consórcio municipal. Como devemos proceder?
No caso da execução escolhida ser por consórcio público (MA-71), na ata
deverá constar ainda, o nome e o CNPJ do consórcio público, bem como os municípios que o integram.
9) A emenda de iniciativa popular terá execução garantida ou seguirá as mesmas regras das emendas parlamentares e de bancada?
Os procedimentos relativos aos convênios e a liberação dos recursos é de responsabilidade do Executivo, ou seja, a apresentação da emenda de iniciativa popular obedecerá as mesmas regras das emendas parlamentares e de bancada. Nesse processo é importante o apoio dos Deputados Federais e Senadores de cada estado.
10) Para qual telefone posso ligar para tirar dúvidas?
As dúvidas poderão ser tiradas diretamente na Consultoria de Orçamento através dos telefones: 61.3216.5170 ou 61.3216.5171 com os senhores Mário ou Sidney. O gabinete do deputado Darcísio Perondi estará sempre à disposição para esclarecimento de dúvidas através dos telefones: 61.3215.5518 61.3215.1518.
Abaixo, estamos disponibilizando o link da Comissão Mista de Orçamento, com todas informações sobre as Emendas Populares. No site, vocês poderão pegar as guias e modelos de atas.
http://www2.camara.gov.br/atividade-legislativa/orcamentobrasil/orcamentouniao/loa/loa2012/ciclos/emenda_popular.html

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Notas dos Cursos de Enfermagem existentes em Santa Catarina

SIGLA DO IESMUNICÍPIOCONCEITO ENADEENADE FAIXACONCEITO CPCCPC FAIXA
FURBBLUMENAU2,1232,143
UNIDAVIRIO DO SUL1,452SC
UNIVALIITAJAÍ2,6932,863
UNIVALIBIGUAÇU2,563SC
UNISULPALHOÇA1,4821,963
UNISULTUBARÃO1,8821,993
UNISULARARANGUÁ1,9931,973
UFSCFLORIANÓPOLIS2,4733,094
BOM JESUS/IELUSCJOINVILLE2,1532,233
UNCCONCÓRDIA1,4322,173
UNCCANOINHAS1,5921,752
UNCMAFRA1,4421,752

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Dia da Proclamação da República - temos o que comemorar?

O feriado de 15 de novembro literalmente passou, e tenho a forte sensação conversando com alguns amigos, que essa data deixou apenas a lembrança de um feriado chuvoso ou, no mínimo nublado, pois não foi possível curtir uma praia. Sendo assim gostaria nesse espaço de colocar para discussão, o que para mim representa o feriado da Proclamação da República.


Em primeiro lugar pergunto: vivemos realmente no Brasil uma verdadeira república depois desses 122 anos de proclamação? Alguns fatores me levam a crer que não. Vamos a alguns deles que coloco para reflexão de todos.


Pesquisando de onde vem a palavra REPÚBLICA, encontramos uma afirmação que diz: Res pública - aquilo que é do povo. Somente com esse conceito já podemos perguntar, vivemos uma república verdadeiramente do povo? Essa república que conhecemos vive em função dos interesses da maioria da população? Pois o que deve predominar são os interesses do povo e não dos governantes. Apesar disso penso que o povo em minha opinião vem tomando decisões contra o próprio povo, pois na medida que encontramos alguns políticos acusados de corrupção, nunca podemos esquecer que fomos nós quem  os elegeu ou até mesmo reelegemos.. Então temos parte de culpa nesse processo! Ou estou enganado? Noberto Bobbio já dizia: “A boa república é a virtude dos cidadãos”.


Portanto a população deve participar mais ativamente da construção da nossa República, não ficar somente aguardando a grande imprensa divulgar fatos e versões sobre a falta de prática republicana de alguns de nossos representantes. Não podemos tolerar a distribuição de favores em proveito pessoal, como é prática corriqueira. Lembre-se: o processo eleitoral é uma via de mão dupla para nós eleitores. Votamos, porém não podemos esquecer da nossa responsabilidade de acompanhar nossos representantes legais. Pergunto: Fazemos isso, ou só ficamos atrás da leitura diária dos jornais e revistas, ou em pequenas rodas de amigos, falando mal dos políticos? Você participa de alguma forma organizada de controle social?


Vamos pinçar uma experiência da nossa não prática democrática formalmente falando. Nossos partidos políticos estão fazendo prévias internas para decidir quem são os futuros candidatos nas eleições majoritárias? A grande maioria não tem essa prática. Fazer prévias partidárias é uma demonstração de espírito democrático. Estamos sendo coniventes com essa prática dentro do partido que somos filiados?


Outra pergunta. Nosso poder central é ou não é muito forte? Essa é outra prática não republicana na minha avaliação, pois se vivemos numa república, não podemos admitir que governadores e prefeitos se sujeitem a ir até Brasília com o chapéu na mão, solicitar verbas para seus estados e municípios, sendo obrigados na maioria das vezes a ficar comprometidos com os interesses do governo central, nem sempre idênticos com os interesses da grande maioria da população local. Mas também é verdade que nós eleitores gostamos muito dessa prática, principalmente porque nossos representantes no Poder Legislativo ( Estadual ou Federal ) acabam sendo usados como fiadores ou intervenientes nesse processo. E isso nunca foi papel do poder legislativo.


Nossa atual república está longe de ser aquilo que conceitualmente se entende que deveria ser. Vejo essas características nos três poderes ( Executivo, Legislativo e Judiciário ). Outra grande preocupação nossa deve ser com a corrupção, pois a mesma atrapalha a construção da verdadeira república. Sendo a mesma utilizada como uma relação mercantil dentro da democracia, pois os interesses do povo vão para um nível inferior, importando apenas os interesses pessoais ou de alguns grupos.


 Portanto, precisamos fortalecer nossos mecanismos de controle tão arduamente conquistados na Constituição de 88. Precisamos sempre despertar a consciência fraterna. Devemos nos preparar para uma convivência com responsabilidade, não somente de quem ocupa cargos públicos, mas de todo o povo. Para isso devemos ter uma prática permanente de participação, e todos sabem que participar dá muito trabalho.


Enfim, não existe República sem ética e sem moralidade pública, e infelizmente parece que essa prática se tornou rotina em algumas situações. Vale a pena colocar a mão na consciência antes de torcer para que o feriadão da república chegue no ano que vem. Dentro desse importante tema, gostaria de reforçar o convite para que todos participem da Iª Conferência Regional sobre Transparência e Controle Social que vai acontecer no próximo dia 25 de novembro no Centro de Convenções Alfredo Salfer – Joinville.
Douglas Calheiros Machado

Vejam que linda !!!!

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Entrevista com Jorge Solla - Secretário de Saúde da Bahia falando sobre o desafio do Fortalecimento da Atenção Básica.

Jorge Solla, Secretário de Saúde de Bahia, fala do desafio do Fortalecimento da Atenção Básica no Estado
slO atual Secretário Estadual de Saúde da Bahia, Jorge Solla, à frente da pasta desde 2007, foi Secretário de Atenção à Saúde no Ministério da Saúde entre 2003 e 2005 e professor da Universidade Federal da Bahia.
Em entrevista ao Portal para Gestores do SUS, o Secretário fala dos desafios e da necessidade de fortalecimento da Atenção Básica no Estado.
O que está sendo feito de inovador na Atenção Básica na Bahia?
É importante destacar a necessidade de fortalecimento da Atenção Básica, como primeiro nível de atenção e porta de entrada do sistema de saúde. Isso não é fácil. Existe uma cultura de não se privilegiar a atenção básica. Inclusive ela não é vista como uma ação do ponto de vista social das mais valorizadas no âmbito do sistema de saúde. Todo um esforço precisa ser feito nessa perspectiva. Entre as ações para fortalecer a atenção básica quero destacar a iniciativa de criação da Fundação Estatal de Saúde da Família. É uma fundação pública, de direito privado, que foi instituída por 69 municípios da Bahia. Ela é uma administração indireta, não é exclusiva de um município, é interfederada e vai se ampliando progressivamente com a participação de outros municípios no processo. A Fundação foi criada em 2009 e, em 2010, realizamos o primeiro concurso público para contratação de médicos, enfermeiros e odontólogos.
Hoje uma equipe de 150 médicos, com enfermeiros e odontólogos está atuando na Estratégia Saúde da Família em várias cidades da Bahia.

Quais as vantagens desse sistema?
Esse sistema tem algumas vantagens. Primeiro a de superar a dificuldade do município em contratar pessoal para a atenção básica, devido aos limites da lei de responsabilidade fiscal que estabelece um percentual que pode ser gasto com a contratação de recursos humanos. Há também os limites salariais, onde o teto é a remuneração do prefeito municipal. E isso é um impedimento para se remunerar de forma competitiva no mercado, um profissional, um médico que vai trabalhar 40 horas na Estratégia Saúde da Família. Em segundo lugar, esse trabalho tem também a vantagem de evitar a disputa entre os municípios.
No começo cada um oferece uma diferença salarial a mais e depois passa a oferecer vantagens para o profissional que implicam em prejuízos na assistência a saúde. Como exemplo, um dia de folga, depois dois, depois três. Chegou ao ponto de ter profissional ganhando até R$ 18 mil para trabalhar dois dias na semana em alguns municípios. E o mais prejudicado com isso é o usuário do sistema que tem seu acesso e a qualidade da assistência comprometida. Além disso, a Fundação dá um suporte na qualificação, apoiando iniciativas que permitem o aprimoramento do profissional.

Como está estruturada essa iniciativa?
Ela tem um conselho curador com representantes da Secretaria de Saúde do Estado, das universidades públicas, dos próprios municípios e de outras instituições interessadas em pontencializar o atendimento por meio da Fundação. A Fundação permite ainda o desenvolvimento de uma carreira, com o profissional podendo migrar de um município para outro e continuar na mesma carreira sem perder o vínculo. Os contratos são regidos pela CLT e o plano de carreira oferece vantagens dependendo do local da atividade, com as localidades de maior dificuldade de fixação oferecendo uma melhor remuneração, vantagem que também é aplicada sobre nível de formação e tempo de serviço. Esse modelo de Fundação, voltada para a atenção básica, está sendo adotado de forma pioneira na Bahia. Existem noutros estados, mas para montagem de rede hospitalar, portanto, para outro tipo de serviço.

Existe alguma dificuldade para a formação das equipes?
Fizemos concurso em todas as capitais, devido à dificuldade de contratação de médicos. Para odontólogo e enfermeiro o concurso foi feito somente na Bahia. Tínhamos 500 vagas para médicos, 600 se inscreveram, uns 500 fizeram a prova e por volta de 150 assumiram. A maioria, quando soube que teria que trabalhar 40 horas desistiu. Para odontólogo havia 350 vagas e tivemos 3.500 inscritos. Todos os aprovados assumiram. Para enfermagem 300 vagas e 18 mil candidatos. A disparidade desses números mostra a falta de uma política pública para regular a oferta e a procura de profissionais na área médica.
No caso da Bahia houve a criação de um numero expressivo de postos de trabalho na área médica. O comum era ter no município um médico uma vez por semana. Temos uma carreira, uma boa remuneração, garantias trabalhistas e não conseguimos preencher as vagas. Isso porque no regime de plantão de 12 horas semanal o profissional consegue remuneração semelhante sem fixar um vínculo. Dar um expediente de segunda a sexta-feira e ter um maior compromisso com o usuário, com a comunidade que exige um envolvimento maior do profissional e isso não está arraigado na formação profissional.
Na Bahia, nos últimos quatro anos, construímos mais de 400 novas Unidades de Saúde da Família, abrimos mais de 1.300 leitos hospitalares só na rede pública estadual, fora os hospitais municipais e filantrópicos. Triplicamos a cobertura do SAMU, dobramos a cobertura de saúde mental com os CAPS.
Esse é um desafio grande. Porque não se faz atenção básica, não se faz saúde da família sem ter profissionais. Se há mais vagas do que profissionais há a dificuldade de desenvolver os programas de atenção básica. E o problema está na área médica. Porque não há dificuldade para contratar enfermeiros e odontólogos.
Apesar de tudo isso, a Fundação está conseguindo um bom resultado, pois conseguimos profissionais para atender uma parcela importante dos municípios. Hoje mais de 20% dos 417 municípios da Bahia estão participando da Fundação. E um novo concurso vai ser realizado com a expectativa de atender novas demandas.

Como é feita a gestão da Fundação?
Os recursos para a Fundação são provenientes das mesmas fontes de financiamento da atenção básica: recursos federais e repasses dos estados e municípios. A Fundação trabalha com os recursos aprovados na Comissão Intergestores Bipartite (CIB) e cada município aporta um valor maior ou menor em função das demandas que estão sendo atendidas.
A Fundação tem um contrato de gestão com cada município e ela recebe recursos em função dos serviços prestados. Cada município tem uma situação específica, onde é estabelecida uma meta de serviços a ser atendida pela Fundação durante o período de um ano. A Secretaria de Saúde tem um termo de cooperação técnica com a OPAS e, a criação da Fundação Estatal foi precedida de um debate dentro dessa cooperação técnica. A questão não se limita a atenção básica, ela envolve a criação de um modelo de gestão com mais agilidade, flexibilidade e que supera os entraves.
Trabalhar na Fundação é vantajoso para o profissional de saúde. Permite uma carreira, é bom para a gestão municipal e para a política do SUS como um todo e, principalmente, para o usuário. A queixa de que o paciente não consegue um vínculo com o médico está sendo superada. Salvador é o município onde tem a menor cobertura na atenção básica. Não houve grandes investimentos, muita alternância de gestão, e com isso um terço das equipes não tem médicos para atender a população. Os médicos estão na capital, mas têm tanta alternativa que não se propõem a atender nos postos da periferia. É um grande problema não só de Salvador, mas nacional.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Enfermagem: 30 horas já!!!

O Fórum Nacional 30 horas Já: Enfermagem unida por um objetivo convoca todos os profissionais da Enfermagem a participarem do movimento para a aprovação do PL 2295/2000, que regulamenta a jornada de trabalho dos profissionais de Enfermagem em 30 horas semanais. A data da caravana será 1º de dezembro e não mais dia 30 de novembro. A mudança foi em virtude da transferência da data da abertura da 14ª Conferência Nacional de Saúde. O encontro acontece, a partir das 9 horas da manhã, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

A convocação é uma iniciativa das organizações representativas da Enfermagem que compõem o Fórum: Cofen, ABEN, FNE e CNTS, que vêm a público dialogar com a sociedade, convocando as autoridades políticas e os profissionais de Enfermagem para que se posicionem em defesa da JORNADA DE 30 HORAS SEMANAIS. O Coren/SC está organizando dois ônibus para que os profissionais catarinenses também participem da mobilização nacional no dia 1º de dezembro.


As inscriçoes para ida devem ser no site do Coren-SC. Se houver interessados em ir virá um ônibus pegar o pessoal em Joinville.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Determinantes Sociais na Saúde: Entrevista com Jaime Breilh

Determinantes Sociais da Saúde: Entrevista com Jaime Breilh

Por Cátia Guimarães e Raquel Junia
Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz)

Entre os dias 19 e 21 de outubro, o Brasil sediou a Conferência Mundial de Determinantes Sociais em Saúde, que reuniu 1200 pessoas de 125 Estados-membros da Organização Mundial de Saúde no Rio de Janeiro. A despeito da magnitude e de alguns encaminhamentos práticos do encontro, houve muitas dúvidas sobre sua real capacidade de propor e incentivar mudanças mais estruturais. E essa discussão inclui a concepção de determinantes sociais adotada mundialmente e aceita pelo evento.

Um desses críticos é Jaime Breilh, médico equatoriano que, ainda na década de 1970, muito antes de isso se tornar preocupação para a OMS, desenvolveu uma dissertação de mestrado sobre determinação social da saúde. PhD em Epidemiologia e mestre em Medicina Social, Breilh é professor e diretor da área de saúde da Universidad Andina Simón Bolivar, no Equador, e autor de vários livros. Nesta entrevista, além de analisar a Conferência, ele discute o conceito de determinantes sociais da saúde a partir da sua relação com os modelos de desenvolvimento e distingue os campos da saúde coletiva e da saúde pública no enfrentamento dos problemas do mundo atual.

O sr. diz que a noção de determinantes sociais da saúde foi elaborada primeiro pelo pensamento crítico latino-americano e depois sofreu um ‘retrocesso’ na concepção adotada pela OMS. O que mudou?

Na década de 1970 houve alguns trabalhos preparatórios, como os de Sergio Arouca sobre uma nova visão da prevenção e os de Cristina Laurell sobre as comunidades mexicanas, que foram aportes substantivos. A primeira vez que se reivindicou o conceito de determinação social da saúde foi na minha tese de mestrado, no ano de 1976, que foi publicada em livro em 1979. Ela mais ou menos estabeleceu a primeira discussão sistemática e profunda sobre a determinação social da saúde e a categoria de reprodução social como elemento que define as dimensões da determinação social da vida e da saúde. Os anos 1980 foram um período de diversificação dos problemas: vários grupos da América Latina se especializaram em componentes da determinação social, alguns na saúde e trabalho, outros na teoria da gestão e na teoria da administração em saúde, outros em educação, em epistemologia. A partir de 2005, quando surge a Comissão de Determinantes Sociais em Saúde da OMS, com o suporte intelectual basicamente dos textos do Michael Marmot, a OMS assumiu o conceito de determinantes sociais sem, contudo, reconhecer a contribuição de 30 anos de trabalho latino-americano. Isso representou uma mudança fundamental de conceitos porque é uma forma de dizer que os determinantes são uma maneira de melhorar a causalidade, ou seja, que agora vamos encontrar as causas das causas dos problemas de saúde. Eu acredito que isso foi uma distorção do conceito original que a epidemiologia crítica latino-americana estabeleceu. Nós não estamos falando de fatores causadores, mas de processos históricos que geram os problemas de saúde coletiva. Então, há uma diferença, um confronto de paradigmas que não é a primeira vez na história que se produz. A visão dos determinantes está inscrita em uma epidemiologia social, ainda muito influenciada pelo positivismo, por uma visão linear e reducionista dos fatores que agora chamaremos de determinantes. Do outro lado, temos a visão de um pensamento crítico, social, profundo, que se fundamenta na economia política e em uma visão material da cultura, dos elementos da política. Meu temor é de que esta Conferência, apesar de todo o esforço que o Brasil fez para defender um pouco a presença de um pensamento crítico e de um pensamento latino-americano, se converta simplesmente em uma forma de atualizar um esquema de hegemonia do velho pensamento em saúde, que agora teria novos nomes. Eu vejo isso com muita preocupação, pois se não há uma presença forte dos movimentos sociais, das organizações acadêmicas, das organizações políticas da América Latina e de outros continentes, vamos perder um instrumento muito forte de enfrentar essa etapa da humanidade que é de crise muito profunda da saúde. Vai haver uma declaração da Conferência, mas também haverá uma declaração paralela ou pelo menos um documento de posição da Associação Latino-americana de Medicina Social (Alames), onde estará um pensamento diferente, com alguns pontos de contato com essa declaração dos ministros, mas com o pensamento dos setores acadêmicos críticos, dos setores políticos e do pensamento científico mais avançado da América latina.

Por isso o sr. disse que estava um pouco desesperançado com esse evento?

Sim, porque eu vejo que o tratamento dos problemas continua muito superficial. Apesar de estarmos em uma Conferência sobre a determinação dos problemas, seguimos tratando dos efeitos. Uma coisa que resume o problema atual da determinação social da saúde é que o mundo inteiro está dominado por empresas gigantescas da agroindústria, da mineração, das finanças, dos campos-chave da economia e da vida. Há empresas inclusive na própria gestão da saúde — como a Fundação Gates e tantas outras que dizem que têm mais fundos do que a própria OMS. Então, se isso está em mãos de grandes corporações, seus interesses são os que vão induzir políticas de saúde, decisões de investigação, fundos de investigações, fundos para as escolas de pós-graduação. Então, o que me decepciona é que aqui, nesta Conferência, a visão crítica desse fenômeno tão importante praticamente está ausente, a não ser em eventos isolados onde estamos alguns latino-americanos ou algumas outras pessoas fazendo um trabalho de perguntas e de questionamento a respeito de uma proposta diferente. Eu vejo que existe o que Gramsci chamava de um grande processo de hegemonia: convocam-se as pessoas, inclusive jovens, servidores públicos, o setor oficial, os governos, e aí nos colocamos de acordo sobre certas questões — o que será a determinação social ou os determinantes sociais — e simplesmente voltamos ao mesmo de sempre, em um mundo que agora está muito pior. Não há uma mudança, uma influência sobre as universidades, sobre os ministérios no sentido de transformação, mas sim de adaptação à crise e isso me parece muito perigoso.

Quais são as relações entre saúde e modelos de desenvolvimento?

A determinação da saúde passa primeiro por certos fenômenos macro que impõem uma lógica a toda a sociedade. Que fenômenos são esses? Definitivamente, é o modelo econômico. E o modelo que temos agora não é simplesmente o capitalismo, mas o capitalismo acelerado, uma locomotora destrambelhada. Para poder acelerar a acumulação de capital nessa grande lógica da sociedade, estão-se pressionando os rendimentos dos trabalhadores, impondo condições mais graves de trabalho, utilizando tecnologias sem princípios de precaução suficientes. Então, esse processo de aceleração se faz inclusive sobre a base da pilhagem: ou seja, uma empresa, por meios fraudulentos, toma a terra, a água, os recursos vitais de um povo. Em toda a América Latina, as grandes corporações estão fazendo uma compra massiva de terra e água, estão também com processos transgênicos para definir um monopólio das sementes. Uma agricultura na qual a terra já não é sua, a água já não é sua, as sementes não são suas mostra a perda de soberania sobre a alimentação, e um povo que não tem soberania sobre a alimentação é absolutamente vulnerável. As pessoas estão condicionadas a viver dessa forma que não é boa para a sua saúde, com sistemas de trabalho cada vez mais perigosos, sistema de consumo baseado no desperdício, uma forma que não é protetora de um buen vivir, mas de um consumo comercial, despojada de recursos de defesa, de suportes de organizações protetoras coletivas e comunitárias. Você, como individuo, tem que se mover em uma margem muito restrita de condições, e estas condições estão produzindo doenças evidentes. Por exemplo, temos um crescimento descomunal do câncer, estamos com processos de deterioração genética, aumento de doenças transmissíveis como a tuberculose, que se tornou resistente, depois de alguns países terem começado a solucioná-la-. E por que há tanta resistência? Primeiro porque há uma incapacidade dos sistemas em manter uma terapia, um acompanhamento, apesar de todos os esforços dos programas de tuberculose. Além disso, devemos perguntar, por exemplo, por que há tanta resistência microbiana em geral — não só na tuberculose. Além de outras causas, é preciso atentar que estamos comendo carne de porco e frango que usam hormônios e antibióticos para aumentar a produtividade. Se você ingere permanentemente, em baixas doses, certos antibióticos, é possível que por aí se desenvolva uma resistência, que cada vez se torna pior como um problema de saúde pública. Então, a determinação social no nível desses processos gerais, dos grupos e das pessoas, vai fazendo com que haja adoecimento. Muitas vezes trabalhadores agroindustriais não sabem que têm um problema, porque estão ativos, mas estão gerando um câncer, uma toxicidade hepática ou uma anemia por intoxicação. Esses são processos ocultos que estão massivamente gerando uma patologia que vai incidir nos perfis epidemiológicos do presente e do futuro.

Um dos exemplos que o Brasil tem apontado como positivo na ação sobre os determinantes sociais da saúde são as políticas focais, que visam reduzir a pobreza e eliminar a miséria. Qual a importância e os limites dessas políticas para a saúde?

Tanto o governo brasileiro quanto outros da América latina caem em uma contradição quando, ao mesmo tempo em que estão tocando programas que têm uma franca vontade política de melhorar as coisas para que os têm menos, de corrigir as grandes iniquidades do passado, não são suficientemente fortes e enfáticos em controlar, por exemplo, as grandes transnacionais da alimentação, da produção agrícola, da mineração, da indústria em geral. Porque às vezes os governos pensam que é explorando os recursos naturais que vão ter dinheiro para os programas sociais. Mas não poderiam fazer isso sabendo que essa produção se dará à custa de efeitos contrários aos que estão tentando fazer os programas que tratam de corrigir exatamente o problema que esse modelo produz. Qual é o modelo de desenvolvimento real que devemos promover que não esteja contaminado pelo modelo civilizatório do capitalismo do século XX? Pois já entramos em um novo milênio e precisamos ter um novo viver, talvez com taxas de crescimento menos agressivas, mas com mais qualidade. A China está crescendo 10%, é o país do mundo que cresce mais rápido, entretanto, para fazer isso, teve que destruir toda a sua água, os bosques, criar situações de crise ecológica profunda, perder direitos sociais, permitir, inclusive, áreas de trabalho escravo. Os chineses não tinham uma crise alimentícia e agora há uma macdonaldização da comida chinesa, que era tão rica, tão diversa. Então, tem sido um desenvolvimento falso, um desenvolvimento econômico de índices abstratos, mas que no humano, no social, no epidemiológico, na natureza, é um desastre. Precisamos pensar como fazemos na América Latina para gerar um novo modelo que seja produtivo, que garanta recursos, mas que não seja às custas do ser humano e da natureza.

E é possível construir esse novo modelo?

Eu acredito que sim. Temos riqueza natural, muitas fontes de energia, as reservas de água mais importantes do planeta, a biodiversidade mais alta do mundo. Mas lamentavelmente os grandes poderes das grandes empresas ainda seguem no controle de tudo isso. Enquanto isso não mudar, essa riqueza será mal utilizada e dirigida para um modelo que não é de desenvolvimento, mas de deterioração crescente.

A defesa de sistemas universais de saúde e da saúde como direito de todos e dever do Estado são ‘bandeiras’ do movimento sanitário no mundo. Elas ainda dão conta do que se precisa mudar nas políticas de saúde?

São muito importantes, mas não são suficientes. São importantes porque no mundo continuará havendo sempre processos de adoecimento que precisam de atendimento, então, é preciso que haja bons hospitais, um acesso equitativo aos serviços de saúde e aos programas preventivos individuais. Nisso o Brasil avançou muitíssimo e eu creio que é uma fortaleza que o país tem — e, além disso, nesse avanço, o SUS incorporou algo bem importante, que são a gestão e a participação. Os conselhos de saúde brasileiros são uma das experiências que é preciso analisar com muito cuidado porque podem ser um caminho interessante a propor. E há muitas outras experiências, como a boliviana, com o chamado Estado integral e a equatoriana, com o quinto poder do Estado que é a participação do povo, agora com um conselho de participação cidadã. Mas eu acredito que ainda não foram cobertas essas outras dimensões da saúde, que não se esgotam com a palavra prevenção. Parece que sempre que dizemos prevenção pensamos em vacinas, mas eu me refiro a atuar no controle desses processos estruturais que causam tanto dano à natureza e aos seres humanos. Nenhuma experiência latino-americana abordou de maneira consistente, consolidada, ampla, nacional e integrada todo esse impacto. Existem interessantes experiências na agenda dos países, mas não existe uma consistente política integral de saúde. A universalidade não é só universalidade de acesso clínico e assistencial, é universalidade do Buen vivir, de um viver saudável. Se você não pode fazer esportes saudavelmente, trabalhar saudavelmente, ter um consumo racional, se é limitado em sua cultura e identidade, só porque tem acesso a um hospital e a um serviço de saúde, não quer dizer que você tem saúde. Todo esse conjunto de elementos são os determinantes estruturais da saúde.

No Brasil, existem os campos da saúde pública e da saúde coletiva. O sr. fala em epidemiologia crítica e em medicina social. Qual a diferença desses campos?

Tradicionalmente há uma divisão entre saúde pública e saúde coletiva. As críticas à saúde coletiva surgem em parte por desconhecimento do que foi a sua realidade, porque a acusação é de que talvez tenha sido feita muita teorização, boas pesquisas, mas que não há dimensão concreta de ação. Pode-se acusar a saúde coletiva de ser teórica e, assim, os da saúde pública seriam os práticos. Mas isso é falso. Vejamos um exemplo: se há uma criança com um problema agudo respiratório infeccioso, nesse momento eu não posso analisar a determinação desse caso, tenho que cuidar dessa criança com um bom atendimento clínico e talvez, em algum momento, bom atendimento cirúrgico. Mas é um erro definir que a análise sobre por que se produziu esse caso deve se limitar ao momento em que a criança chega à emergência do hospital. Existe também uma emergência coletiva, que não é tão visível assim. E isso não vamos atender com vacinação e serviços de atenção primária à saúde: será atendido modificando leis, melhorando o sistema jurídico urgentemente. Por exemplo, como faremos agora para proteger do problema do câncer as mães trabalhadoras de agroindústrias do Equador, como faremos para protegê-las do aborto, da intoxicação, da má formação congênita, de uma série de problemas de saúde para elas e para as crianças. Já ocorreu uma situação de eu estar com meus alunos na zona rural estudando um problema de uma plantação de bananas e um avião estar fazendo pulverização aérea em cima de nós. Então, o que a saúde pública tradicional irá fazer esperando no hospital ou no centro de saúde com a atenção primária? Nesse caso, é preciso atuar no sentido de colocar uma regulamentação rígida para que as empresas não causem desastres. Outro exemplo: precisamos fazer mudanças imediatas e urgentes para defender a alimentação dos nossos países. Se em todo o território brasileiro se plantar soja para a exportação ou cana para o etanol, de onde vão tirar os alimentos para os brasileiros? E quem produz esses alimentos? Os médios e pequenos agricultores. Então, é necessário protegê-los, garantir crédito, proteger também o mercado nacional, o pequeno vendedor das cidades, para que os grandes centros comerciais não se apropriem de tudo. Isso quem vai fazer? A saúde pública tradicional, esperando no centro de saúde para vacinar crianças? Então, necessitamos urgentemente de ciência com conhecimento de causa. Necessitamos muito de uma epidemiologia do trabalho, uma epidemiologia de proteção do consumidor, necessitamos de um trabalho na área jurídica para que sejam modificadas as normas, necessitamos de pesquisas para termos técnicas, que a lei diga que os agrotóxicos serão classificados de determinada forma e que não poderão ser utilizados de certa maneira. Nesse caso dos agrotóxicos, o Brasil avançou muito graças à academia, às boas pesquisas que esse país tem sobre os agrotóxicos. A legislação brasileira chama esses venenos de agrotóxicos, outros países continuam chamando de pesticidas ou herbicidas, o que é um erro. Então, como podem dizer que isso não é prático, que não é importante para modificar a saúde? O que acontece é que há pessoas que ignoram que o mundo da saúde vai além dos hospitais e dos centros de saúde.

A ideia de determinantes sociais da saúde aparece muitas vezes relacionada com a de promoção da saúde, enfocando também hábitos individuais. Como essas duas perspectivas se relacionam?

Essa é uma das contradições mais importantes, porque isso parte do desconhecimento da diferença entre estilos de vida e modos de vida. O estilo de vida é um campo de livre decisão das pessoas, mas você não pode tomar decisões absolutamente livres porque você está determinado socialmente, portanto, sua classe social tem um modo de vida. Imagine uma senhora que tem problema de obesidade, é trabalhadora de uma fábrica com um horário de trabalho das sete da manhã até a noite, com apenas quatro dias de descanso por mês. Aí você diz a ela: ‘a senhora tem que fazer exercícios, andar de bicicleta’. Ela irá lhe responder: ‘em primeiro lugar, nunca tenho tempo livre, em segundo lugar, não tenho bicicleta, em terceiro lugar, no meu pouco tempo livre, tenho que lavar roupas dos meus filhos, cuidar da casa, etc’. Não considerar o modo de vida é uma maneira de culpar as pessoas do que é um problema estrutural. A mudança individual é importante, mas só é factível se existe uma mudança coletiva, e a mudança coletiva só é factível se existe uma legislação, uma proteção social, e ações que não são individuais. Então, são dois campos em que se deve atuar, mas não se pode deixar tudo nos efeitos e nas pessoas, porque o resultado disso é que os culpados de tudo são as pessoas.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Posse da nova diretoria do COREN-SC

Na manhã de sexta-feira, 11 de novembro, na sede do Coren/SC, em Florianópolis, aconteceu a posse de gabinete da direção eleita do Conselho Regional de Enfermagem para o período 2012-2014, que iniciará os trabalhos no dia 1º de janeiro de 2012. De acordo com a Enfª Dra. Denise Pires, atual presidente do Coren/SC, a posse marca mais um momento do pleito que transcorreu de forma transparente e democrática, reafirmando as decisões dos profissionais de Enfermagem em Santa Catarina.
Cumprindo os trâmites legais previstos no Código Eleitoral dos Conselhos de Enfermagem, foi realizada a eleição interna para a direção executiva, via voto secreto dos Conselheiros Efetivos eleitos no pleito de 11 de setembro de 2011. Por unanimidade, a Enfª Dra. Felipa Rafaela Amagidi foi conduzida ao cargo de presidente e a Enfª Dda. Janete Elza Felisbino, ao cargo de Secretária Geral. A Auxiliar de Enfermagem Nelyr de Fátima Filipini foi reconduzida ao cargo de Tesoureira do Conselho. Para a Comissão de Tomada de Contas (CTC), ficaram definidos os Conselheiros: Enf. Esp. Douglas Calheiros Machado, Técnica em Enfermagem Jaçany Aparecida Borges Prudente e a Técnica em Enfermagem Rafaela Serpa.
A atual presidente do Coren/SC, Enfª Dra Denise Pires ficou como Conselheira Vogal e responsável pela articulação nacional das lutas da Enfermagem. Além da direção executiva, a eleição interna definiu como Delegada Regional a nova presidente, Enfª Dra. Felipa Rafaela Amadigi, tendo como suplente a Enfª Dra. Denise Pires. Também fazem parte da direção do Coren/SC para o período 2012-2014, como suplentes, o Enfermeiro Msc. Jacks Soratto, a Enfª Dra. Judite Hennemann Bertoncini, a Enfª Msc. Maria do Carmo Vicensi, a Enfª Esp. Otília Cristina Coelho Rodrigues, a Técnica em Enfermagem Janara Caroline Ribeiro e a Auxiliar de Enfermagem Marlene Serafim de Oliveira. Por questões pessoais, o Conselheiro eleito como titular do Quadro II, Técnico em Enfermagem Flávio Cesar Herartt, renunciou ao mandado, colocando-se, mesmo assim, a disposição para contribuir informalmente com a direção. Ele foi substituído, também por decisão unânime, pela Conselheira Técnica em Enfermagem Jaçany Aparecida Borges Prudente.
A presidente empossada, Enfª Dra. Felipa Rafaela Amadigi, ressaltou que o dia 11/11 marca um momento importante, consolidando mais uma vitória da participação. “Agradeço a cada um dos colegas que, ao receber nosso convite, aceitou o desafio de participar do processo eleitoral. Agradeço aos colegas que, mesmo não fazendo parte, diretamente, do grupo que agora toma posse, vestiram a camisa e confirmaram o nome de nossa chapa: Participação. Agradeço também a cada um dos profissionais de Enfermagem que depositaram a sua confiança neste grupo”, enfatizou. A Enfermeira fez também uma referência especial de agradecimento ao importante trabalho dos Conselheiros atuais que não continuarão na direção, como a Enfª Msc Rosilda Veríssimo e o Técnico em Enfermagem Gabriel Luckmann, e destacou a trajetória de personalidades da Enfermagem na luta pela valorização da profissão e pela transparência e democracia no Sistema Cofen-Conselhos Regionais, desde o início do Movimento Participação, nos anos 1980, citando a Enfª Dra Denise Pires, o Enfermeiro Ddo. Jorge Lorenzetti, o Enfermeiro Dr. Gelson Albuquerque, atual Secretário do Cofen, a Enfª Dra. Lygia Paim e diversos outros nomes importantes.
Da mesma forma, reafirmou a importância da Associação Brasileira de Enfermagem - Seção de SC, entidade na qual o movimento de transformação e renovação foi iniciado. O trabalho da Enfª Msc Anita Zago e dos demais membros da Comissão Eleitoral que organizou as eleições 2011 recebeu, igualmente, uma referência pela transparência e responsabilidade. “Reafirmo nosso compromisso político com a valorização da Enfermagem e defesa das condições de trabalho, em especial com a luta pela regulamentação das 30 horas, compromisso com a organização e o fortalecimento profissional, com uma gestão pautada nos princípios da ética, da transparência e da participação”, enfatizou a presidente empossada.
Posse da nova direção é prestigiada por entidades
Representantes de importantes entidades da Enfermagem e da Saúde prestigiaram a posse de gabinete da direção eleita do Coren/SC. Estiveram presentes a presidente da ABEn-SC, a Enfª Msc Maristela Assumpção de Azevedo, e a vice-presidente da entidade, Enfª Msc Ana Kirchoff, que destacou a competência com que a atual direção trabalhou até agora, ressaltando a continuidade da parceria com o Coren/SC. Representando a direção do SindPrevs-SC, Márcio Roberto Fortes também destacou a parceria entre as entidades como fundamental para as lutas, como no caso das 30 horas e demais demandas dos trabalhadores em saúde.
O representante do SindSaúde/SC, Wallace Fernando Cordeiro, ressaltou que o trabalho conjunto entre Sindicato e Coren/SC deve continuar, parabenizando a direção eleita. Também estiveram presentes, prestigiando a posse, profissionais de Enfermagem que têm contribuído imensamente com o Conselho Regional de Enfermagem: a Enfª Dra. Dulcinéia Ghizoni Schneider, membro da Comissão de Ética; a Enfª Msc Liete Francisco Marcelino, membro da Comissão de Ética; a Enfª Msc Tânia Soares Rebello, atual coordenadora do Departamento de Fiscalização e Ética do Coren/SC; a Enfª Dda. Maria Lígia dos Reis Bellaguarda, assessora da Câmara Técnica; o Enf. Dr. Jeferson Rodrigues, representando a Deputada Estadual e Enfermeira Ana Paula Lima, e a Enfª Elaine Forte, apoiadores da direção.

Discurso da Presidente sobre o SOS Emergência e Saúde em Casa