
"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo. Esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia. E se não ousamrmos fazê-la, teremos ficado para sempre a margem de nós mesmos" Fernando Pessoa.
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Tabagismo passivo custa caro ao país.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Contra a crise, aumento de gastos públicos
Christian Chavagneux é redator-chefe de Alternatives Economiques , site dedicado ao crédito alternativo e cooperativo.
Christian Chavagneux: Os Estados Unidos experimentaram recentemente um importante ciclo de expansão econômica. Entretanto as desigualdades e a pobreza aumentaram. Como explicar isso?
Paul Krugman: Isto se dá, em grande parte, diante de uma mudança nas relações políticas de força. A massa dos assalariados perdeu muito de seu poder de negociação, e como explico em meu último livro (A América que Queremos, Ed. Flammarion, 2008), as condições políticas têm uma influência essencial na distribuição da renda.
Christian Chavagneux: Qual foi o papel das políticas implementadas pelo governo Bush?
Paul Krugman: Bush fez duas coisas. Mudou o sistema fiscal num sentido muito regressivo, com reduções muito fortes nos impostos sobre as rendas mais altas, os dividendos e os lucros do capital. Ele beneficiou os mais ricos e ao mesmo tempo reduziu os fundos disponíveis para as políticas públicas e para a ajuda aos mais necessitados. Podemos fazer uma estimativa: entre 30% e 40% das reduções de impostos de Bush beneficiaram as pessoas que ganham mais de 300 mil dólares por ano [mais ou menos 600 mil reais], o que representa uma redistribuição [de renda] em favor daqueles que estão em melhor condição de pagar impostos. O governo Bush, por outro lado, acelerou a perda de poder de negociação dos assalariados, reduzindo em muito toda possibilidade de organização sindical.
Christian Chavagneux: Qual é o papel da globalização no aumento das desigualdades?
Paul Krugman: Ela deveria, em princípio, contribuir, mas embora as forças da globalização afetem todos os países desenvolvidos da mesma forma, a distribuição de renda é diferente de país para país. Os Estados Unidos fazem parte daqueles países em que as desigualdades cresceram muito. Isso não acontece do mesmo modo no Canadá, que está tão aberto quanto nós, e menos ainda na Europa continental. As desigualdades cresceram muito no Reino Unido, embora isso tenha acontecido, sobretudo, nos anos de Thatcher. Predominam as condições nacionais sobre a globalização, e foi nos Estados Unidos que se criou um aumento maciço das desigualdades.
Christian Chavagneux: Podem os americanos contar com uma forte mobilidade social para combater as desigualdades?
Paul Krugman: Não. Alguns indivíduos conseguem subir na escala social, mas não tanto quanto a gente gostaria de imaginar. As histórias das pessoas que saem da pobreza e se tornam muito ricas são poucas. Só 3% das pessoas que nascem entre os 20% da população mais pobre terminam a vida entre os 20% mais ricos. Entre os países desenvolvidos, os EUA parecem ter o grau menor de mobilidade social.
Christian Chavagneux: Então o sonho americano morreu?
Paul Krugman: Não. De qualquer modo, a realidade jamais esteve à altura do que o sonho americano almejava. Mas nós estamos acordando!
Christian Chavagneux: Que políticas seriam necessárias para lutar contra essa situação social degradada?
Paul Krugman: Em princípio instaurar um sistema de seguro-saúde que seja universal, que cubra toda a população. Todos os países desenvolvidos têm algo parecido. E a falta de cobertura social representa uma das primeiras causas da desigualdade e da perda de mobilidade social. Aí, é necessário estabelecer um sistema educativo melhor, o que exige reformas, mas também recursos. Por fim, é necessário aumentar o poder de negociação dos assalariados, facilitando a formação de sindicatos. O declínio do movimento sindical não resulta de uma tendência inevitável a longo prazo. Mais da metade da perda de poder dos sindicatos ocorreu durante a era Reagan. Tudo isso [o aumento do poder dos sindicatos] permitiria aumentar o número de empregos e a renda destinada à classe média. Poderíamos fazer uma longa lista de medidas, mas penso que pôr de pé uma cobertura universal da saúde, que é algo factível, é uma prioridade e seria um grande passo a frente.
Christian Chavagneux: Como financiar tudo isso?
Paul Krugman: Não é tão caro como se pensa. Nós temos hoje um sistema um tanto especial. Dizemos não ter uma cobertura médica pública, mas todas as pessoas com mais de 65 anos recebem uma ajuda financeira pública, e também os mais pobres. Se tomarmos o total dos aportes disponíveis, mais da metade da cobertura em saúde já está assegurada pelo Estado. As pessoas que não dispõem de seguro hoje são os jovens e as famílias jovens, aquelas que pela situação precária de seus empregos e por sua renda insuficiente não podem ter os benefícios de um seguro privado. Essas pessoas não custam muito caro, em termos de uma cobertura de saúde: assegurar uma visita médica regular, um controle dental etc., não é muito oneroso. No total, isso vai representar menos de 1% do PIB.
Christian Chavagneux: Em seu livro, o Sr. pede uma nova política fiscal...
Paul Krugman: De um modo geral, precisamos de mais entradas financeiras. É preciso reverter a queda nos impostos do governo Bush, porque sabemos que isso é inútil. Tivemos uma economia muito próspera com o governo de Clinton, com um imposto sobre as rendas de mais de 39,6%, e uma economia menos próspera com Bush, apesar de um imposto de 35%. Não há argumento racional que sustente esse caminho. Por outro lado, não há por que aceitar paraísos fiscais e os desvios que eles permitem. Por fim, há uma margem para aumentar a carga de impostos sobre os mais ricos. O objetivo não é penalizar os ricos, mas sim fazê-los pagar sua parte do financiamento das políticas públicas que o resto da população precisa.
Christian Chavagneux: Apesar dessa inércia social, os Estados Unidos continuam sendo a primeira potência econômica mundial. Como se explica isso?
Paul Krugman: Os Estados Unidos continuam sendo um lugar privilegiado para os 5% dos mais ricos. Os rendimentos dos dirig

• Entrevista publicada em Sin Permiso e reproduzida pela Agência Carta Maior(22/10/08); Paul Krugman é professor de Economia da Universidade de Princeton, colunista do New York Times e ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2008 (tradução para o espanhol, Carlos Abel Suárez; para o português, Flávio Aguiar)
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
CFM cirtica proposta de que o governo seja indutor da oferta de residência médica.

As estratégias para esse fim ainda estão sendo traçadas. De acordo com o secretário executivo da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), José Carlos de Souza Lima, a Comissão Interministerial de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde já tem o resultado preliminar de um estudo que está sendo feito por universidades de todo o País, cujo objetivo é justamente fazer um mapeamento que leve em conta as necessidades de profissionais das regiões. De acordo com o estudo, as principais carências regionais do sistema público de saúde estão nas especialidades de cancerologia, medicina intensiva, neurologia, anestesiologia, pediatria e medicina da família e comunidade. José Carlos cita ainda as áreas de neonatologia, geriatria, psiquiatria (saúde mental de modo geral) e área do trauma – sobretudo agora com índices de violência elevados.
Os esforços da Comissão Interministerial – composta por representantes do Ministério da Educação, Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) – estão voltados também para outras profissões da área da saúde como fisioterapia, fonoaudiologia, psicologias, assistência social e enfermagem, com o propósito definido de estimular a residência multiprofissional em saúde. No que diz respeito à residência médica, especificamente, o plano ainda está sendo traçado, mas Lima adianta que se está pensando em formas políticas e meios de fomentar a formação nessas áreas.
O secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (Sgtes), Francisco Campos, por sua vez, elenca as possíveis propostas e resume a intenção do governo: “Há muita vaga que não é ocupada e pode ser re-ofertada e reocupada; podemos fazer consórcios com instituições de grande notoriedade; ou propor um ano adicional de residência em regiões carentes de determinadas especialidades; bem como estimular as universidades a abrir vagas nessas áreas. Faremos trabalho indutivo com universidades e hospitais”, explica. Ainda de acordo com Campos, o Ministério da Educação também já tem a primeira versão da proposta voltada ao programa de Financiamento Estudantil (Fies). A idéia é que a pessoa que tomou empréstimo educacional para cursar medicina em escola privada poderia servir em locais onde há carência de médicos (estima-se que sejam 400 com ausência absoluta) e ter a dívida renegociada se ficar oito anos no local.
Críticas
Para o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto d’Avila, o equívoco está no foco ao qual o governo se volta para resolver o problema. Segundo ele, não adianta o governo e os ministérios ficarem elaborando teses sobre a formação, sobre necessidades de recursos humanos para o SUS, porque o indutor é o mercado de trabalho. “Não há uma carreira que estimule o profissional a trabalhar pelo serviço público. O governo federal não faz concurso para médicos do SUS e joga a responsabilidade para os estados e município que, tradicionalmente, usam contratos precarizados, ou, quando fazem concurso, oferecem salários pouco atrativos, não demonstrando interesse em dar uma dignidade ao profissional médico”, rebate.
Para d’Avila, um Plano de Cargos Carreiras e Salários (PCCS) que oferecesse estabilidade e perspectiva aos médicos, resolveria, por conseqüência, o problema da carência de profissionais e determinadas áreas. “É instável, é precário, não tem atrativo”, define o panorama atual. Ele exemplifica sua posição mencionando concursos recentes que despertaram pouco interesse dos médicos.
O presidente da ANMR (Associação Nacional dos Médicos Residentes), Paulo Amaral, questiona se as entidades médicas estão participando devidamente das discussões. De acordo com Amaral, a ANMR não foi consultada, embora tenha representatividade na Comissão Nacional de Residência Médica.
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Novo Capitalismo ?

Há uns dias atrás, várias pessoas de diversos países e diferentes posições políticas, subscrevemos o texto que reproduzo abaixo. É uma chamada de atenção, um protesto, a expressão do alarme que sentimos diante da crise e das possíveis saídas que se afiguram. Não podemos ser cúmplices.
“Novo capitalismo?”
Chegou o momento da mudança à escala pública e individual. Chegou o momento da justiça.
A crise financeira aí está de novo destroçando as nossas economias, desferindo duros golpes nas nossas vidas. Na última década, os seus abanões têm sido cada vez mais frequente e dramáticos. Ásia Oriental, Argentina, Turquia, Brasil, Rússia, a hecatombe da Nova Economia, provam que não se trata de acidentes conjunturais fortuitos que acontecem na superfície da vida económica mas que estão inscritos no próprio coração do sistema.
Essas rupturas, que acabaram produzindo uma contracção funesta da vida económica actual, com o argumento do desemprego e da generalização da desigualdade, assinalam a quebra do capitalismo financeiro e significam o definitivo ancilosamento da ordem económica mundial em que vivemos. Há, pois, que transformá-lo radicalmente.
Na entrevista com o presidente Bush, Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, declarou que a presente crise deve conduzir a uma “nova ordem económica mundial”, o que é aceitável, se esta nova ordem se orientar pelos princípios democráticos – que nunca deveriam ter sido abandonados – da justiça, liberdade, igualdade e solidariedade.
As “leis do mercado” conduziram a uma situação caótica que levou a um “resgate” de milhares de milhões de dólares, de tal modo que, como se referiu acertadamente, “se privatizaram os ganhos e se nacionalizaram as perdas”. Encontraram ajuda para os culpados e não para as vítimas. Esta é uma ocasião única para redefinir o sistema económico mundial a favor da justiça social.
Não havia dinheiro para os fundos de combate à SIDA, nem de apoio para a alimentação no mundo… e afinal, num autêntico turbilhão financeiro, acontece que havia fundos para que não se arruinassem aqueles mesmos que, favorecendo excessivamente as bolhas informáticas e imobiliárias, arruinaram o edifício económico mundial da “globalização”.
Por isto é totalmente errado que o Presidente Sarkozy tenha falado sobre a realização de todos estes esforços a cargo dos contribuintes “para um novo capitalismo”!… e que o Presidente Bush, como dele seria de esperar, tenha concordado que deve salvaguardar-se “a liberdade de mercado” (sem que desapareçam os subsídios agrícolas!)…
Não: agora devemos ser resgatados, os cidadãos, favorecendo com rapidez e valentia a transição de uma economia de guerra para uma economia de desenvolvimento global, em que essa vergonha colectiva do investimento de três mil milhões de dólares por dia em armas, ao mesmo tempo que morrem de fome mais de 60 mil pessoas, seja superada. Uma economia de desenvolvimento que elimine a abusiva exploração dos recursos naturais que tem lugar na actualidade (petróleo, gás, minerais, carvão) e que faça com que se apliquem normas vigiadas por uma Nações Unidas refundadas – que envolvam o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial “para a reconstrução e desenvolvimento” e a Organização Mundial de Comércio, que não seja um clube privado de nações, mas sim uma instituição da ONU – que disponham dos meios pessoais, humanos e técnicos necessários para exercer a sua autoridade jurídica e ética de forma eficaz.
Investimento nas energias renováveis, na produção de alimentos (agricultura e aquicultura), na obtenção e condução de água, na saúde, educação, habitação… para que a “nova ordem económica” seja, por fim, democrática e beneficie as pessoas. O engano da globalização e da economia de mercado deve terminar! A sociedade civil já não será um espectador resignado e, se necessário for, utilizará todo o poder de cidadania que hoje, com as modernas tecnologias de comunicação, possui.
Novo capitalismo? Não!
Chegou o momento da mudança à escala pública e individual. Chegou o momento da justiça !!!
Federico Mayor ZaragozaFrancisco AltemirJosé SaramagoRoberto SavioMário SoaresJosé Vidal Beneyto
Publicado em O Caderno de Saramago
As exigência para hospitais privados mudam a partir de novembro


segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Hospital e médica são condenados a indenizar bebê.

A menina nasceu no dia 8 de janeiro de 2002, com 49 cm e 2,9 Kg e com todas as funções vitais normais. Após cinco dias teve febre e amarelão na pele, retornou ao hospital na companhia dos pais para avaliação médica. A pediatra do plantão constatou febre de 39º e icterícia e, ao ver o desespero dos pais, acalmou-os dizendo que era uma pequena cólica com icterícia fisiológica.
A médica receitou dipirona para o bebê. Solicitou alguns exames e, como o hospital não tinha laboratório de plantão, recomendou que eles fossem para casa e retornassem no dia seguinte. Durante a madrugada, o quadro se agravou. Ao chegarem ao hospital, os pais foram avisados que o estado da filha era grave e que a recém-nascida deveria ser levada ao Hospital Materno Infantil (HMIB), pois lá havia UTI e recursos para salvá-la.
Ao chegar no HMIB, a bebê foi encaminhada à UTI, submetida à transfusão de sangue, entubada, posta em banho de luz e medicada. Foi diagnosticada infecção, com suspeita de meningite, e iniciado tratamento com antibióticos. Ficou internada por 11 dias. Os pais foram informados que a filha sofrera paralisia cerebral em razão do aumento expressivo da taxa de bilirrubina no sangue provocada pela infecção. Enquanto os níveis normais de bilirrubina em bebês de até 5 dias são menores que 12 mg/dl, os da recém-nascida estava 39,5 mg/dl.
Segundo o laudo da perícia médica, a não realização dos exames solicitados foi determinante para a evolução do quadro. De acordo com o perito, os exames poderiam ter sido providenciados com mais agilidade mediante a internação hospitalar, o que proporcionaria, também, uma observação mais cuidadosa da paciente. O tratamento a que foi submetida no HMIB serviu apenas para dominar a infecção, pois a Hiperbilirrubinemia já havia afetado o sistema nervoso central da paciente.
O laudo constata, também, que para oferecer serviço de urgência 24 horas, o hospital deveria contar com os pré-requisitos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina que determina a necessidade de um médico de plantão e estrutura de diagnóstico e tratamentos mínimos.
Tanto a pediatra quanto o hospital contestaram a ação. Ambos alegaram diligência no atendimento e apontaram o HMIB como responsável pelas conseqüências desastrosas. Segundo a pediatra, os pais foram avisados da necessidade de urgência nos exames e foram alertados para que procurassem outro laboratório. O hospital alegou ilegitimidade passiva e afirmou que a pediatra estava no plantão para substituir outro colega, mas que não pertencia ao quadro de médicos da instituição. Ambos os recursos foram negados.
De acordo com a sentença da juíza, o Código de Defesa do Consumidor estabelece no artigo 14, parágrafo 1º que a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. Para a juíza, “a conduta da pediatra de mandar para casa um recém-nascido com 39º de febre sem que um diagnóstico preciso fosse determinado demonstra negligência médica”.
Quanto ao hospital, o caput do artigo 14 do CDC dispõe que os fornecedores de serviços respondem, independentemente da existência de culpa, por conta da responsabilidade objetiva. A decisão foi mantida pela 4ª Turma Cível do TJ-DF.
Processo 2004.03.1.003394-7
Revista Consultor Jurídico, 27 de outubro de 2008
domingo, 26 de outubro de 2008
Boas vindas ao novo Prefeito de Joinville
Prefeito que em bom latim significa “posto como chefe”. E nesse caso, posto pelo voto direto, pela vontade da maioria e desejo do povo, como deve ser em toda Democracia séria. Sem discussões, sem disposições em contrário, sem contestações desnecessárias e sem mais nada. Os amantes da Democracia devem dar a ele as boas vindas, e rogar para que ele seja realmente bem vindo e se direcione no sentido de melhorar a vida dos que, no isolamento da urna, o elegeu, muitas vezes despretensiosamente.
Vai administrar uma Joinville, construída com o suor de seus trabalhadores. Pois da minha parte seja bem vindo senhor Prefeito. Rendo-lhe meus respeitos, mesmo não sendo do seu partido. Mesmo assim, seja bem vindo. Desejo de todo coração que o seu mandato seja grandioso. Iluminado por Deus!
Desejo que sua Excelência pense duas vezes antes de construir hospitais fantásticos, repletos de tecnologia e com fartura de leitos e profissionais altamente especializados. Cuidado com as obras desnecessárias e que não se sustentam, pois o seu custeio é alto demais para os cofres públicos, e aí poderemos ter um elefante branco levando os poucos recursos públicos pelo ralo abaixo. Mas desejo que as Unidades Básicas de Saúde espalhados pela periferia, onde vive a grande população de baixa renda, sejam reequipadas, sem esquecer os recursos humanos, peça chave na construção de um SUS de qualidade, que resolve aproximadamente 80% dos problemas que lá chegam, evitando gastos maiores com as internações hospitalares. E que a fragilidade do momento insano da doença seja amparada por mãos cidadãs, propondo dignidade e respeito a quem precisa. Não se esqueça da sua promessa de campanha no tocante a construção de esgotos e saneamento que é Básico, e faz muita diferença para a saúde da nossa população.
Desejo que sua Excelência pense em vias asfaltadas e sinalizadas, em canteiros floridos que venham a embelezar ainda mais nossa cidade, e assim equipara-la à grandeza da alma dos que moram nela. Desejo também que a sua sensibilidade não deixe em segundo plano o transporte coletivo de nossa cidade, tema muito caro para mais de 140 mil usuários/dia. O povo exige mais linhas, em especial nos horários de pico e um preço justo para as passagens.
Como funcionário público que sou desejo que sua excelência promova capacitações de altíssimo nível para os seus comandados, de carreira ou não. E que isso os transformem em pessoas bem humoradas que honrem o título de funcionários públicos, ou seja, funcionários do povo. Gente especializada, que de uma hora pra outra, entenda que o salário que recebe vem daqueles que precisam desses inestimáveis serviços. Cuidado com os cabides de empregos, tão severamente criticado por este Brasil afora.
Desejo que nossas crianças sejam recebidas por professores alegres e felizes, comprometidos com a educação dos nossos futuros cidadãos. Sim, Senhor Prefeito. Sem um professor não existiria nossos atuais gestores e ilustres brasileiros, tais como Machado de Assis, José de Alencar, Raquel de Queiroz e nem ninguém, até mesmo Vossa Excelência, que sabe muito bem o que é ser um professor.
Seja bem vindo futuro Prefeito de Joinville. Que as lições da vida tenham ensinado à sua Excelência humildade e gentileza para com o próximo. Espero que ao final do seu mandato eu e todos os joinvilenses, estejamos aqui prontos para elogiar tudo o que foi feito em nome de todos e para todos, como bem dizia em sua campanha eleitoral.
Assim como estarei de pé para aplaudi-lo, também estarei atento para os possíveis erros no uso do nosso rico dinheiro público, e não pouparei as críticas que se façam necessárias.
Executiva bem sucedida.

sábado, 25 de outubro de 2008
A política é a busca do "bem comum"?

__________* Ver BOBBIO, Norberto. Política. In: BOBBIO, N., MATTEUCCI, N. e PASQUINO, G. Dicionário de Política. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1992, Vol. 2, p.957-958.
Postado por Antonio Ozaí da Silva.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
O médico e o título de Bacharel


Por Cláudio Franzen*
(*) Cláudio Franzen é presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul. Artigo publicado no Portal Médico, dia 23/10/08.
Transfusão de sangue

por Sebastião Alves Junqueira
As camadas de rocha registram a história da terra. Estudar esses registros é estudar Geologia. Similarmente, as decisões judiciais registram a história do Direito. Estudar essas decisões é estudar o Direito e a evolução do pensamento jurídico.
Recentemente, os Tribunais de Justiça dos estados do Mato Grosso e de Minas Gerais1 demonstraram que o juiz, em alguns casos, para dizer o que é o Direito, precisa levar em conta a esfera mais íntima de um ser humano, sua consciência. Não é uma tarefa simples para os burocráticos tribunais brasileiros, cujos conflitos são muitas vezes solucionados pelo simples apego ao formalismo e à ritualização de certos atos, em alguns casos orientados por preconceitos.
É sabido que a posição dos pacientes Testemunhas de Jeová quanto à escolha de tratamento médico sem sangue é um assunto rodeado pelo espectro do preconceito, mesmo nos meios jurídicos, gerando, ainda, muita polêmica.
Entretanto, os acórdãos do TJ-MT e do TJ-MG endossam, sob o enfoque do princípio constitucional da “dignidade da pessoa humana” (artigo 1.º, III, da CF), o direito do paciente Testemunha de Jeová de receber tratamento médico sem transfusão de sangue.
No estado do Mato Grosso, em 2006, um paciente com 70 anos, necessitando submeter-se a uma cirurgia cardíaca, procurou os serviços públicos de saúde locais. Por ser Testemunha de Jeová, o paciente desejava que a cirurgia fosse realizada sem o uso de hemocomponentes. Todavia, como salientado no corpo do acórdão do TJ-MT, “o único médico a fazer cirurgia cardíaca pelo SUS – Sistema Único de Saúde, não domina a técnica de realizá-la sem o risco de se utilizar transfusão de sangue”.
No estado de São Paulo, a mesma cirurgia era realizada, também pela rede do SUS, sem o uso da terapia transfusional, razão pela qual o paciente iniciou procedimento administrativo na Secretaria de Saúde a fim de obter sua transferência. Indeferido o pedido, o paciente promoveu ação de obrigação de fazer, com pedido de tutela antecipada, solicitando sua transferência a fim de que o procedimento cirúrgico fosse realizado em outro estado da Federação. Negada a tutela antecipatória, interpôs recurso de agravo de instrumento ao Tribunal de Justiça.
O desembargador Orlando de Almeida Perri, analisando as circunstâncias do caso, delimitou o âmbito da matéria ressaltando que “impõe-se esclarecer que não se está a debater ética médica ou confrontação entre o direito à vida e o de liberdade de crença religiosa. O que se põe em relevo é o direito à saúde e a obrigação de o Estado proporcionar ao cidadão tratamento médico que não implique em esgarçamento à sua liberdade de crença religiosa”. Derrubada, portanto, uma tese comumente utilizada sobre conflito entre direitos fundamentais do paciente (vida X liberdade religiosa), pois não era o caso.
Sem dúvida, seria estranho sustentar tal tese, porquanto o paciente estava procurando preservar sua vida, tanto que iniciou dois procedimentos (administrativo e judicial) para garantir seu acesso à saúde, porém, levando em consideração suas convicções pessoais. Em nenhum momento as convicções religiosas do paciente colocaram em perigo o seu “direito à vida”.
Focalizando a discussão no princípio da “dignidade da pessoa humana”, o julgador salientou que “não cabe à Administração Pública avaliar e julgar valores religiosos, mas respeitá-los.(...) Se por motivos religiosos a transfusão de sangue apresenta-se como obstáculo intransponível à submissão do recorrente à cirurgia tradicional, deve o Estado disponibilizar recursos para que o procedimento se dê por meio de técnica que dispensem-na, quando na unidade territorial não haja profissional credenciado a fazê-la. (...) Ora, havendo método cirúrgico substitutivo na comunidade médica, tem o recorrente o direito de obter da administração pública o fornecimento de meios para que possa realizar o procedimento fora de seu domicílio.”
No mesmo sentido, em 2007, o Tribunal de Justiça do de Minas Gerais cassou uma decisão de concessão de tutela antecipada que autorizava a realização de transfusão de sangue forçada em paciente adulto e capaz. O caso envolvia um paciente de 19 anos, internado em hospital público para tratamento de câncer no sistema linfático. Realizado o procedimento quimioterápico padrão, a equipe médica prescreveu suporte transfusional. Diante de suas convicções religiosas, o paciente aceitou o tratamento quimioterápico com suporte não-transfusional. O procedimento solicitado seria constituído de cuidados médicos à base de Eritropoetina, hormônio que atua na produção de glóbulos vermelhos, o que evitaria a terapia transfusional.
A equipe médica contatou o Ministério Público que, por sua vez, deflagrou ação civil pública com tutela antecipatória, alegando basicamente que o paciente correria risco de vida caso não fosse ministrada transfusão de sangue e, em havendo conflito de direitos fundamentais, in casu, vida X liberdade religiosa, o direito à vida deveria prevalecer, sendo a transfusão realizada sem o consentimento do paciente. Concedida a antecipação da tutela pelo juízo de primeiro grau, o paciente recorreu ao TJ-MG.
Mais uma vez o estado veio em favor do paciente, protegendo sua dignidade como ser humano. Reputando como legítimo o direito do paciente de escolher seu tratamento médico e ciente da existência de tratamento que poderiam evitar o uso de hemocomponentes, o Tribunal entendeu que “ (...) o direito à vida não se exaure somente na mera existência biológica, sendo certo que a regra constitucional da dignidade da pessoa humana deve ser ajustada ao aludido preceito fundamental para encontrar-se convivência que pacifique os interesses das partes. Resguardar o direito à vida implica, também em preservar os valores morais, espirituais e psicológicos que se lhe agregam. (...) É conveniente deixar claro que as Testemunhas de Jeová não se recusam a submeter a todo e qualquer tratamento clínico, desde que não envolva a aludida transfusão;”
Notável a sensibilidade destes tribunais ao respeitarem a posição dos pacientes Testemunhas de Jeová. Ao consagrarem a dignidade da pessoa humana como o fundamento dessas decisões, os direitos fundamentais envolvidos (vida, liberdade religiosa e acesso à saúde) permaneceram intactos.
Essas decisões demonstram que é preciso repensar a aplicação da teoria a respeito da colisão de direitos fundamentais e a prevalência do bem jurídico maior.
O direito de escolher tratamento médico isento de sangue, motivado por questões religiosas, é uma projeção da dignidade da pessoa humana, qualquer que seja a instituição hospitalar onde o paciente se encontra internado, pública ou privada. Os acórdãos citados esclarecem que os pacientes Testemunhas de Jeová não estavam abdicando de seu direito de viver. Estavam procurando tratamento médico que estivesse em harmonia com sua consciência. E estes tratamentos estavam disponíveis.
Além disso, com o advento do artigo 15 do Código Civil, a autonomia do paciente deve ser privilegiada, principalmente quando o procedimento recomendado gerar riscos para a vida ou a saúde. A terapia transfusional não é um procedimento isento de riscos, portanto, deveria ser ministrada somente com o consentimento do paciente.
Destituir o paciente de sua autonomia, nos casos em comento, significaria reduzi-los à condição de mero objeto do Estado ou de terceiros.
Desta forma, os acórdãos comentados lançaram um novo paradigma, uma nova “camada de rocha” na história do Direito. Diante de uma sociedade pluralista, o Poder Judiciário não pode ficar alheio à realidade do reconhecimento dos plenos direitos fundamentais dos cidadãos. Declará-los é o mesmo que postar-se na “camada” mais elevada em que se encontra atualmente o Direito. Fechar os olhos a isso equivaleria a reter o Direito sob diversas “camadas de rocha” do passado, o que é inadmissível.
Texto publicado no jornal Carta Forense na edição de julho 2008
Nota de rodapé:
1. TJ/MT - Agr. Inst. n.º 22395/2006, 5ª Câmara Cível, julg. 31/05/2006.
TJ/MG – Agr. Inst. n.º 1.0701.07.191519-6/001. 1.ª Câmara Cível, julg. em 14/08/07.
Revista Consultor Jurídico, 24 de outubro de 2008
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
A epidemia dos partos cirúrgicos

Nos últimos meses, a comunidade médica dos obstetras agitou-se em razão das medidas tomadas pela Associação Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) procurando incentivar as mães a optarem pelo parto normal. Corporativismo e onipotência à parte, estamos cansados de saber que a aliança entre interesses financeiros dos hospitais, conforto dos médicos e comodismo ou receio mal esclarecido das mães têm feito dos partos cirúrgicos, com seus riscos de intervenção de grande porte, uma verdadeira epidemia no Brasil.
É interessante lembrar que a hospitalização para o parto foi fato histórico-social traumático e prepotente. Ainda antes da anestesia e das técnicas mais elementares de assepsia - quando a internação tentou ser imposta como norma, rompendo uma tradição de milênios de partos feitos em casa e assistidos por mulheres experientes - as gestantes tiveram de ser "forçadas" à internação hospitalar e reagiram duramente.
A razão principal era a "percepção" de violência e perda de intimidade. Mas havia outra razão importante: a propagação das infecções produzidas pelos médicos ao manipularem as mulheres "em série" nos hospitais, sem que sequer lavassem as mãos, o que aumentava em muito o índice de mortalidade nos partos. Na verdade, ao se liberar de maneira radical das crenças metafísicas, a medicina contemporânea operou uma verdadeira má revolução ética e uma ruptura do seu compromisso de estar a serviço do doente, e não da doença. Separando o doente - subjetivado na relação consigo mesmo e com seu médico - do combate à doença, o discurso médico não é mais capaz de levar em conta na sua prática o drama imaginário, a determinação simbólica e o aspecto ético do sofrimento na relação medicina-doença. O médico não pergunta mais "como você está se sentindo", mas "passe-me seus exames". E são muitos, e muito caros, os exames. O sofrimento fica restrito à doença e a dor, à neurofisiologia.
Para essa medicina tecnocientífica, o doente não é mais que o porta-voz dos sinais da sua doença através dos seus sintomas. Um exemplo importante são os procedimentos ligados ao nascimento de uma criança. A medicina transformou-o de uma função fisiológica - para a qual o organismo da mulher esteve desde sempre preparado - num evento fundamentalmente cirúrgico-hospitalar. Como lembra Vera Iaconelli, o corpo humano passa a ser considerado incapaz e necessitado de "constantes correções de seus desvios biológicos". Todo aparato hospitalar, diretamente ligado à história da industrialização e do capitalismo, vem sendo criticado há décadas e, no entanto, encontra incríveis resistências para ser modificado. Proliferam hospitais modernos e equipamentos sofisticados, mas o "médico da família" desaparece.
No Brasil, quase 80% dos partos no serviço privado são feitos por cesariana, quando a Organização Mundial da Saúde a recomenda em apenas 10% a 15% dos casos. A redução desse índice tem encontrado enormes resistências, a principal delas é o aparato médico-hospitalar e seus interesses econômicos e de conforto. Na rede pública brasileira, esses índices caíram quando o reembolso do parto cirúrgico passou a ser reduzido em relação ao normal. Maternidade é vista como fábrica; parturiente, como máquina; e bebê, como produto. O parto, transformado em evento cirúrgico, vê na mulher meramente um recipiente a ser esvaziado. A ênfase na rapidez e no controle - que predominam nos partos - atrapalha os pais em se apoderarem de seu novo papel, levando-os a duvidar de sua capacidade futura de cuidar dos seus filhos. Vera Iaconelli lembra que o atendimento à gestante é um dos "exemplos mais notáveis da forma pela qual se lida com as questões da subjetividade, pois o espaço das elaborações do vivido mostra-se subtraído e evitado", imprimindo ao parto - início de uma nova vida - a marca registrada tecnológica contemporânea de lidar com o corpo, com a sexualidade e com a morte: banalização ou ocultamento.
Curioso notar que, quando as maternidades de hospitais de luxo querem "modernizar" seu atendimento de parto, introduzem pequenas concessões, como permitir ao bebês ficarem no quarto com a mãe ou serem colocados sobre seu colo, por alguns instantes, ainda na sala de parto. Só muito recentemente as normas hospitalares reconheceram as óbvias advertências de que crianças saram mais depressa em ambiente hospitalar quando a mãe pode ficar com elas nas internações, ou quando têm acesso a salas com jogos e pequenas diversões eventuais, como os chamados "médicos da alegria". Décadas de lutas se passaram para que os lobbies dos grandes fabricantes mundiais de leite em pó fossem parcialmente vencidos e médicos mais responsáveis voltassem a insistir no papel essencial do aleitamento materno exclusivo, para a saúde do bebê. Na realidade, são todos resquícios de um saber milenar que a medicina moderna havia rejeitado.
Enquanto isso, hospitais de periferia carentes de recursos substituem com enorme vantagem as caríssimas, invasivas e "frias" incubadoras pelos hábitos consagrados das "mães-canguru". Ou seja, arrogância e intolerância sempre embalaram as importantes e evidentes conquistas da medicina contemporânea.
Donald Woods Winnicott, famoso pediatra e psicanalista, já dizia sobre o parto que médicos são muito necessários quando algo dá errado. Mas "não são especialistas nas questões relativas à intimidade, vitais tanto para a mãe quanto para o bebê", que precisam apenas de "recursos ambientais que estimulem a confiança da mãe em si própria". É o oposto do que faz, infelizmente, o aparato médico-cirúrgico contemporâneo.
Gilberto Dupas, coordenador-geral do Grupo de Conjuntura Internacional (IRI-USP), presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI), é autor de vários livros, entre os quais, O Mito do Progresso e o recém-lançado romance O Incidente
Morra.....

*Num artigo muito interessante, Paulo Angelim, que é arquiteto, pós-graduado em marketing, dizia mais ou menos o seguinte:
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Agonia da Saúde

Vivemos um momento de grande expectativa e cobrança da sociedade sobre a atividade médica em nosso país, que ainda não superou alguns problemas estruturais básicos. Fomos capazes de criar, gerir e manter um país continental de uma riqueza e potenciais invejáveis, mas não fomos ainda capazes de integrá-lo em uma cidadania plena para todos os seus cidadãos.
No entanto, criamos um sistema público único de saúde de concepção modelar e não fomos capazes de dotá-lo e atualizá-lo, ao longo do tempo, de um plano de financiamento que garantisse a sua prestação de serviços a 145 milhões de brasileiros usuários.
Desenvolvemos centros de excelência médica comparáveis aos melhores do mundo em algumas metrópoles brasileiras, mas não fomos capazes de assegurar um atendimento mínimo de dignidade e de respeito à cidadania da grande maioria dos pacientes usuários de mais de 6.000 hospitais brasileiros.
Formamos mais de 10.000 médicos por ano e somos incapazes de distribuí-los pela maioria de nosso território continental, por não termos desenvolvido uma política salarial pública adequada.
Algumas escolas médicas são exemplares, mas não fomos capazes de conter a proliferação desenfreada de escolas médicas - o maior número do mundo - que lançam no mercado grande contingente de médicos despreparados técnica e, sobretudo, eticamente para o desempenho dessa atividade abençoada que é ser médico, criando sérios problemas para as nossas entidades médicas, entre as quais nos incluímos com a Associação Médica Brasileira (AMB) e o Conselho Federal de Medicina (CFM).
Fomos capazes de criar praticamente todas as sociedades cirúrgicas, de todas as especialidades, mas não fomos capazes de unir nossa imensa força política de persuasão que poderia mudar a face do atendimento público de saúde no Brasil, porque ainda privilegiamos a querela, a disputa de pequenas vantagens, irrisórias e insignificantes, em detrimento de uma identificação de objetivos comuns que resultaria em atendimento melhor de nossa população.
Ultrapassamos um PIB de cerca de 1 trilhão de dólares, mas não fomos capazes de atingir uma aplicação mínima de recursos por habitante (menos de 300 dólares por habitante, quando a Organização Mundial de Saúde considera adequado cerca de 500 dólares por habitante).
Os hospitais públicos estão superlotados e, entretanto, em regime falimentar e de grande sucateamento, sendo fácil imaginar que essa deterioração irá exigir um grande esforço e aporte de recursos para ser recuperada. Um grande exemplo desta afirmativa é o que vem presentemente ocorrendo no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, hospital voltado para o atendimento de alta complexidade no Rio de Janeiro e que perdeu a sua capacidade financeira com repercussão imediata no atendimento dos pacientes e nos programas de treinamento de cirurgia avançada.
Contudo, a constatação dessa realidade não constitui uma afirmativa pessimista. A mudança depende de cada um de nós.
* Presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões; publicado no Globo de 06/10/08.
domingo, 19 de outubro de 2008
Ninguém é insubstituível
Sala de reunião de uma multinacional o CEO nervoso fala com sua equipe de gestores. Agita as mãos mostra gráficos e olhando nos olhos de cada um ameaça: 'ninguém é insubstituível'. A frase parece ecoar nas paredes da sala de reunião em meio ao silêncio. Os gestores se entreolham, alguns abaixam a cabeça. Ninguém ousa falar nada.De repente um braço se levanta e o CEO se prepara para triturar o atrevido: - Alguma pergunta? - Tenho sim. E o Beethoven? - Como? ? o CEO encara o gestor confuso. - O senhor disse que ninguém é insubstituível e quem substitui o Beethoven? Silêncio. Ouvi essa estória esses dias contada por um profissional que conheço e achei muito pertinente falar sobre isso. Afinal as empresas falam em descobrir talentos, reter talentos, mas, no fundo continuam achando que os profissionais são peças dentro da organização e que quando sai um é só encontrar outro para por no lugar. Quem substitui Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna? Ghandi? Frank Sinatra? Dorival Caymmi? Garrincha? Michael Phelps? Santos Dumont? Monteiro Lobato?Faria Lima ? Elvis Presley? Os Beatles? Jorge Amado? Paul Newman? Tiger Woods? Albert Einstein? Picasso? Todos esses talentos marcaram a História fazendo o que gostam e o que sabem fazer bem ? ou seja ? fizeram seu talento brilhar. E portanto são sim insubstituíveis. Cada ser humano tem sua contribuição a dar e seu talento direcionado para alguma coisa. Está na hora dos líderes das organizações reverem seus conceitos e começarem a pensar em como desenvolver o talento da sua equipe focando no brilho de seus pontos fortes e não utilizando energia em reparar 'seus gaps'. Ninguém lembra e nem quer saber se Beethoven era surdo, se Picasso era instável, Caymmi preguiçoso, Kennedy egocêntrico, Elvis paranóico. O que queremos é sentir o prazer produzido pelas sinfonias, obras de arte, discursos memoráveis e melodias inesquecíveis, resultado de seus talentos. Cabe aos líderes de sua organização mudar o olhar sobre a equipe e voltar seus esforços em descobrir os pontos fortes de cada membro. Fazer brilhar o talento de cada um em prol do sucesso de seu projeto. */Se você ainda está focado em 'melhorar as fraquezas' de sua equipe corre o risco de ser aquele tipo de líder que barraria Garrincha por ter as pernas tortas, Albert Einstein por ter notas baixas na escola, Beethoven por ser surdo e Gisele Bundchen por ter nariz grande./* E na sua gestão o mundo teria perdido todos esses talentos.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Violência custa ao menos US$ 15 bi ao país.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Pós eleição...

Fim das eleições municipais. Uns perdem, outros ganham. Serão três meses de transição nos municípios, período em que o grupo que foi derrotado ainda permanecerá no poder. Aí é que mora o perigo. Equipes demitidas, sucateamento dos carros, destruição de documentos.
O desmonte, momento de vingança. O povo, que nas eleições derrotou os atuais detentores do poder, acaba sendo punido. Todo esforço realizado em anos de investimento e trabalho, de repente, vira pó. Este quadro tem sido a regra no estado do Ceará em toda sua história. Uma vergonha. Mas a sociedade tem reagido. Os Conselhos Municipais de Saúde denunciam, o Ministério Público aciona os gestores responsáveis. Na transição passada foi instaurada uma CPI pela Assembléia Legislativa para apurar as irregularidades.
Nós secretários, que dedicamos nossas vidas para construirmos o SUS no nível municipal, não podemos admitir que esta situação se repita este ano. Devemos nos recusar a destruir tudo que realizamos com tanta dificuldade e esforço.
O Cossems-CE não compactuará com nenhum companheiro secretário que contribua com qualquer violência contra o SUS e, consequentemente, contra a população. Somos uma entidade criada para defender a saúde pública e não secretários que usam sua posição para agredir e provocar retrocessos.
Neste período (outubro, novembro, dezembro) estaremos atentos. Mobilizaremos toda nossa estrutura para proteger o Sistema. Não vacilaremos em nenhum momento em acionar a justiça contra os que violarem os princípios de legalidade, probidade e respeito ao SUS.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Ministério admite evasão de médicos
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
domingo, 12 de outubro de 2008

quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Valores e ideais.
(*) Jorge Carlos Machado Curi é presidente da Associação Paulista de Medicina. Artigo publicado no Jornal de Brasília, na edição do dia 09/10/08.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Câncer - por que a luta ainda é tão difícil ?
Por que a mortalidade não cai no Brasil • O envelhecimento da população produz mais casos de câncer • Os brasileiros dão pouca atenção à prevenção • O cigarro provoca 30% das mortes • Alimentação saudável, atividade física e proteção solar reduzem o risco • O diagnóstico precoce ocorre na minoria dos casos • A espera por uma mamografia no SUS pode levar meses • O acesso ao tratamento é desigual no país • Cerca de 90 mil pacientes não conseguirão fazer radioterapia em 2008 • As drogas modernas raramente são oferecidas pelo SUS O SU2C não é o único grupo independente que decidiu propor uma nova forma de fazer pesquisa. A Fundação para a Pesquisa do Mieloma Múltiplo financia trabalhos conduzidos cooperativamente por vários grupos. Em quatro anos, surgiram quatro novas drogas contra a doença, um câncer raro que afeta a medula. A instituição está desenvolvendo outras 30 drogas, metade delas já em fase de estudos clínicos. É compreensível que as pessoas - doentes ou parentes de doentes - tenham urgência de resultados, mas não é justo culpar a ciência pelo fato de ainda não ter surgido a cura do câncer. "Um tumor é mais inteligente que cem cientistas brilhantes", diz Otis Brawley, da American Cancer Society. A pesquisa precisa melhorar. Mas não significa que esteja no caminho errado. "Idéias absolutamente originais não aparecem com freqüência. A maioria dos projetos é baseada em dados preliminares. É assim que a ciência caminha", diz Luiz Fernando Lima Reis, diretor do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Vem ganhando força, por exemplo, uma hipótese antiga sobre o papel das células-tronco no desenvolvimento do câncer. Elas são responsáveis pela formação de todos os tecidos do organismo. Ao se dividir, cada célula-tronco dá origem a duas novas células. Uma é a do tecido necessário para determinado órgão. A segunda é uma nova célula-tronco. A malformação dessas células durante a divisão parece originar o câncer. Se a hipótese for confirmada, poderão surgir drogas capazes de matar a célula matriz e assim impedir a formação de descendentes malignas. Apesar da expectativa por mais recursos contra o câncer, é inegável que avanços importantes foram conquistados nas últimas décadas. Eles reduziram o sofrimento dos pacientes e salvaram muita gente. Devem ser lembrados e servir de inspiração para a melhoria das tantas carências que ainda temos. O combate à leucemia infantil e outros cânceres hematológicos avançou extraordinariamente. Nos anos 60, as crianças sobreviviam poucos meses. Hoje, mais de 70% dos casos são curáveis. Apenas 10% das crianças com tumores cerebrais sobreviviam na década de 70. Atualmente o índice é de 45%. O câncer de mama deixou de ser sinônimo de mutilação e morte. A maioria das pacientes pode ser salva quando o tumor é descoberto precocemente. O maior pesadelo masculino - o câncer de próstata - também pôde ser amenizado. Cirurgias modernas, tratamento com hormônios e métodos como a braquiterapia (implante de sementes radioativas que destroem as células malignas) elevaram as chances de cura e reduziram o risco de efeitos colaterais devastadores como impotência e incontinência urinária. A quimioterapia complementar, depois da cirurgia, permitiu ampliar as chances de cura do câncer de pulmão, embora ele continue sendo um dos maiores desafios dos oncologistas. Histórias de sucesso começam a se tornar menos raras. É o caso do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. Dias atrás um empresário foi ao escritório dele e estranhou a presença de pedreiros reformando o imóvel novo. Não era uma reforma, era uma ampliação. Thomaz Bastos comprara o escritório vizinho, para dobrar o tamanho do seu. "Dobrar o escritório aos 73 anos?", perguntou o cliente. Resposta de Thomaz Bastos: "Nasci de novo. Para mim, a vida começou depois dos 70". A notícia do câncer no pulmão surpreendeu Thomaz Bastos em maio do ano passado, 40 dias depois de sua saída do governo Lula, e acabou com o sonho de uma vida preguiçosa que pretendia levar. "Meu plano era vadiar: ficar mais tempo na praia, trabalhar pouco". Quando recebeu o diagnóstico, a primeira reação foi de raiva. Segundo Drauzio Varella, seu médico, a culpa foi dos mais de 20 anos de cigarro. Uma cirurgia extirpou-lhe a metade superior do pulmão esquerdo. Ele enfrentou 16 sessões de quimioterapia. "Tomava aquele veneno uma semana sim, duas não". Recebeu alta no fim do ano passado. Emagreceu 6 quilos, usa carro o mínimo possível e fez cirurgia para corrigir o astigmatismo que o acompanhava desde os 15 anos de idade - hoje precisa de óculos só para ler. Abandonou a idéia de pendurar a toga. "Agora eu quero trabalhar muito, ganhar dinheiro, pegar grandes causas", diz. "É por isso que estou dobrando o escritório e comprei uma cobertura de 700 metros quadrados que só ficará pronta daqui a quatro anos. Meus planos são todos de longo prazo". Thomaz Bastos tornou-se um antitabagista ferrenho. O comportamento individual tem uma enorme importância na luta global contra o câncer. Não adianta esperar milagres da ciência se cada cidadão não fizer o que está a seu alcance para prevenir a doença. A maior parte dos casos é evitável. Não fumar e evitar o fumo passivo é a melhor medida para reduzir o risco de câncer (confira o que você pode fazer para prevenir a doença na página seguinte). Quando viaja pelo Brasil, freqüentemente o vice-presidente, José Alencar, é abordado por cidadãos que cobram melhorias no atendimento ao câncer. Alencar conhece os problemas, mas não tem soluções prontas. Pediu ao ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que estudasse a possibilidade de oferecer em cada capital um equipamento PET, aquele que faz um escaneamento completo do corpo e detecta alterações metabólicas que podem ser indícios de câncer. Embora seja sofisticado, o equipamento falha em 30% dos casos. Não parece ser a solução para um país cheio de carências básicas no atendimento ao câncer. Converse com qualquer médico e ele vai contar histórias de quem esperou meses por uma endoscopia e, quando conseguiu realizar o exame, tinha um câncer avançado no estômago. Ou de mulheres que só conseguiram fazer uma mamografia depois que o tumor já era grande o suficiente para ser notado até mesmo sem o exame. A classe média, atendida por planos de saúde menos abrangentes que o do vice-presidente, até consegue realizar os exames num prazo adequado. Quando precisa de tratamento, porém, a situação se complica. A maioria dos planos de saúde não paga as formas mais modernas de radioterapia nem quimioterapia oral. Muitas das drogas mais novas, no entanto, são em forma de comprimido. O custo do tratamento pode chegar a R$ 50 mil por mês e elas não são oferecidas pelo SUS. As economias de uma vida inteira, os imóveis que seriam herdados pelos filhos desaparecem em poucos meses. É por isso que cada vez mais doentes exigem na Justiça que o Estado arque com o tratamento. Mesmo quando não há nenhuma indicação de que o remédio solicitado fará efeito naquele paciente. Às vezes, o doente morre alguns dias depois de o Estado ter arcado com gastos enormes e a Secretaria de Saúde deixa de usar o dinheiro de uma forma mais inteligente. "Está muito difícil praticar oncologia no Brasil", diz André Murad, professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Ele diz entender que o SUS não possa pagar tratamentos experimentais ou drogas caríssimas que prolongam a vida por poucas semanas. "Mas o SUS não está oferecendo nem mesmo remédios que comprovadamente aumentam a sobrevida dos pacientes". Não há comprovação de que a droga oral que o vice-presidente José Alencar vai começar a tomar funcione em casos como o dele. O remédio foi desenvolvido para bloquear a formação de vasos sanguíneos que alimentam os tumores (a idéia essencial de Folkman). Diante da falta de opções, Alencar está disposto a correr o risco. Diz não ter medo da morte. "Ninguém sabe o que é a morte. E se for uma coisa boa? E se eu puder encontrar meus pais?" Alencar é uma pessoa notável. Como tantos brasileiros, torço por ele. Fonte: Revista Época