
CONSTRUIR PRONTO ATENDIMENTO NÃO RESOLVE OS PRINCIPAIS PROBLEMAS DE SAÚDE DA POPULAÇÃO DE JOINVILLE.
O serviço público de saúde de Joinville vem sofrendo constantes críticas e manifestações de descontentamento da maioria dos seus usuários. Sabemos que essas críticas aumentaram nos últimos 2 anos. Diante delas as medidas anunciadas e já executas até o presente momento pela administração municipal colocam ênfase na criação de Pronto Atendimentos Ambulatoriais de Saúde (PAAS) e os Pronto Atendimentos Médicos (PAs 24 horas), o último inclusive ainda a ser inaugurado nos próximos meses (PA 24 horas do Aventureiro).
Nós, enquanto profissionais de saúde, e os gestores públicos, deveríamos saber, mais do que ninguém, o quanto é importante um diagnóstico correto para que se tomem medidas eficazes. Algumas respostas imediatistas diante das críticas podem levar a medidas inócuas e até prejudiciais, além do que dispendiosas para os cofres públicos municipais. Medidas muitas vezes apenas cosméticas ou puramente eleitoreiras. É preciso um olhar mais aprofundado para as necessidades de saúde da população e com os serviços públicos para a formulação de propostas mais efetivas.
Sabemos o tamanho da rede assistencial de saúde que Joinville possui, teoricamente com uma capacidade significativa de resolver muitos problemas. Nossa rede municipal causa inveja a muitos municípios pela sua estrutura e pela qualidade de seu quadro de técnicos.
Apesar disso estamos em crise e os usuários sofrendo com a dificuldade, em especial a de acesso. Porque então o povo está sem acesso? Quais são os problemas que não estão sendo resolvidos?
A partir de discussões que vem sendo travadas nos últimos meses no meio técnico da Secretaria de Saúde de Joinville, ouso dizer que não é de mais prontos-socorros ou pronto atendimentos que precisamos. Embora compreenda perfeitamente que essa parece ser a solução mais fácil e atraente, tanto para os usuários, como para os governantes, inclusive essa proposta foi incluída no plano de governo do futuro prefeito de Joinville. Temo que isso se deve apenas a pressa em anunciar medidas que serão adotadas.
O quadro de saúde do nosso município é complexo. Nossa população vive mais, felizmente, e o número de idosos vem aumentando muito. As doenças crônico-degenerativas, do sistema cardiovascular, do aparelho locomotor, a obesidade e o diabetes, a hipertensão arterial, o câncer, a violência, constituem-se nas principais causas de morte e de adoecimento. Ao lado disso na periferia da cidade ainda tem características típicas de áreas pouco desenvolvidas: população jovem, doenças infecciosas, grande número de problemas decorrentes da pobreza e das precárias condições de vida. Lembro também que a violência urbana vem trazendo variadas e numerosas necessidades, inclusive no campo da saúde mental. A dependência de drogas constitui um problema extenso e desafiador para o sistema de saúde.
Outro fator definidor do quadro é a crescente dependência da população dos serviços de saúde e em especial do profissional médico. Tudo parece que tem que ser resolvido através de uma consulta médica, e de preferência com uma receita recheada de medicamentos. Nunca é demais dizer que a indústria de medicamentos contribui para a criação de novas "necessidades" e introduz o consumismo desenfreado, enredando profissionais e usuários na confusão do consumismo, sem muita consciência de quando é o sujeito que escolhe ou é o Programa do Fantástico que induziu aquele produto através da propaganda massiva do domingo a noite. Temos um número exorbitante de estabelecimentos farmacêuticos, um em cada esquina.
Como é que os gestores de saúde vem tratando disso tudo? É possível dizer que muitas e muitas vezes sem muita qualidade e resolutividade. Hoje vemos que as respostas acabam sendo centradas em terapias puramente medicamentosas, em consultas médicas apressadas, solicitação de exames e mais exames, muitos desses desnecessários, inclusive de alto custo. Enfim, o usuário não sente que seu problema foi resolvido e nem sequer foi compreendido pelo médico.
Sendo assim pergunto: que papel pode a construção de mais pronto atendimentos exercer nesse contexto? Tenho a absoluta certeza que é a de piorar a situação! Logicamente sei que o pronto-socorro ou pronto atendimento é um serviço imprescindível no sistema de saúde de qualquer lugar do mundo. É o local onde salvamos vidas e onde podemos ter as intervenções que afastam o risco de morrer ou de agravar as doenças. É para isso que, fundamentalmente ele deve existir. Seu papel é claramente indispensável. Impossível questionar esse fato. Mas ele não pode ser o meio de se conseguir acesso para a grande maioria das necessidades de saúde. A tecnologia ali empregada, a organização do processo de trabalho é inadequada para a abordagem dessa maioria de problemas, além de muito cara. Precisamos observar com discernimento a sua natureza e finalidade.
Pelo quadro de saúde que vimos anteriormente, vê-se que as ações de saúde tem que ser exercidas pelo serviço que está no território onde as necessidades das pessoas são geradas. No bairro, na residência, na escola, no meio das famílias. Esse papel só pode ser efetivo se for exercido por equipes multiprofissionais, vinculadas à população, abolindo o isolamento do médico dentro do seu consultório e a oferta exclusiva da consulta médica como ação de saúde. E para isso a Estratégia da Saúde da Família é ideal.
Sabemos que uma unidade básica de saúde (posto de saúde) deve ser estruturada com recursos compatíveis com a população a ser atendida e assim resolver mais de 80% dos problemas de saúde no seu território. Há inúmeras provas disso ocorrendo em muitos outros municípios pelo país afora.
Porque o povo reclama então? Porque a rede básica não está cumprindo seu papel adequadamente. A população não chega a criar vínculo com os serviços e assim continua procurando prontos-socorros ou os PAS 24 horas.
Outro grande problema é o acesso aos médicos especialistas, esse é um motivo de estresse constante dos profissionais das unidades básicas. Portanto devemos pensar em racionalizar recursos qualificando os encaminhamentos para as especialidades. São muitas as questões fundamentais para a qualificação da rede básica. Várias pesquisas e levantamentos dos serviços tem nos mostrado que mais de 60% dos atendimentos dos prontos-socorros não deviam ser feitos ali. Os pacientes seriam melhor atendidos na unidade básica com mais eficácia e qualidade. Sabemos também, pelas prestações de contas da própria secretaria de saúde, que os custos da manutenção de um pronto-socorro é igual ao de muitas unidades básicas somadas.
Se insistirmos em construir mais pronto atendimentos vamos certamente perpetuar essa distorção. Reproduzimos de maneira infindável consultas, exames, administração inadequada de medicações, e o pior, após isso tudo ainda ficamos com a sensação de estar enxugando gelo ou apagando pequenos incêndios diariamente.
Precisamos potencializar a ação do atuais prontos-socorros e pronto atendimentos, com maior investimento na rede básica, porém cumprindo o seu papel que é fundamental nesse quadro anteriormente esboçado. Priorizar é preciso! A tentação de inaugurar pronto atendimento pode ser grande para os gestores e para os usuários do sistema que penam nas eternas filas também. Mas criar prontos atendimentos sem investir na rede básica, não resolverá os problemas de saúde. Apenas perpetuará distorções e implicará em emprego de recursos preciosos em ações pouco eficazes. Temos inclusive que ampliar o horário de funcionamento de algumas unidades para o período noturno até às 22 horas. Além disso, temos que qualificar a gestão dos nossos serviços, dando-lhes estrutura compatível com a sua complexidade, corrigindo algumas distorções inclusive a de descompromisso com o seu público. Temos que radicalizar nas propostas de humanização. Esse é o caminho possível no meu entendimento.
O serviço público de saúde de Joinville vem sofrendo constantes críticas e manifestações de descontentamento da maioria dos seus usuários. Sabemos que essas críticas aumentaram nos últimos 2 anos. Diante delas as medidas anunciadas e já executas até o presente momento pela administração municipal colocam ênfase na criação de Pronto Atendimentos Ambulatoriais de Saúde (PAAS) e os Pronto Atendimentos Médicos (PAs 24 horas), o último inclusive ainda a ser inaugurado nos próximos meses (PA 24 horas do Aventureiro).
Nós, enquanto profissionais de saúde, e os gestores públicos, deveríamos saber, mais do que ninguém, o quanto é importante um diagnóstico correto para que se tomem medidas eficazes. Algumas respostas imediatistas diante das críticas podem levar a medidas inócuas e até prejudiciais, além do que dispendiosas para os cofres públicos municipais. Medidas muitas vezes apenas cosméticas ou puramente eleitoreiras. É preciso um olhar mais aprofundado para as necessidades de saúde da população e com os serviços públicos para a formulação de propostas mais efetivas.
Sabemos o tamanho da rede assistencial de saúde que Joinville possui, teoricamente com uma capacidade significativa de resolver muitos problemas. Nossa rede municipal causa inveja a muitos municípios pela sua estrutura e pela qualidade de seu quadro de técnicos.
Apesar disso estamos em crise e os usuários sofrendo com a dificuldade, em especial a de acesso. Porque então o povo está sem acesso? Quais são os problemas que não estão sendo resolvidos?
A partir de discussões que vem sendo travadas nos últimos meses no meio técnico da Secretaria de Saúde de Joinville, ouso dizer que não é de mais prontos-socorros ou pronto atendimentos que precisamos. Embora compreenda perfeitamente que essa parece ser a solução mais fácil e atraente, tanto para os usuários, como para os governantes, inclusive essa proposta foi incluída no plano de governo do futuro prefeito de Joinville. Temo que isso se deve apenas a pressa em anunciar medidas que serão adotadas.
O quadro de saúde do nosso município é complexo. Nossa população vive mais, felizmente, e o número de idosos vem aumentando muito. As doenças crônico-degenerativas, do sistema cardiovascular, do aparelho locomotor, a obesidade e o diabetes, a hipertensão arterial, o câncer, a violência, constituem-se nas principais causas de morte e de adoecimento. Ao lado disso na periferia da cidade ainda tem características típicas de áreas pouco desenvolvidas: população jovem, doenças infecciosas, grande número de problemas decorrentes da pobreza e das precárias condições de vida. Lembro também que a violência urbana vem trazendo variadas e numerosas necessidades, inclusive no campo da saúde mental. A dependência de drogas constitui um problema extenso e desafiador para o sistema de saúde.
Outro fator definidor do quadro é a crescente dependência da população dos serviços de saúde e em especial do profissional médico. Tudo parece que tem que ser resolvido através de uma consulta médica, e de preferência com uma receita recheada de medicamentos. Nunca é demais dizer que a indústria de medicamentos contribui para a criação de novas "necessidades" e introduz o consumismo desenfreado, enredando profissionais e usuários na confusão do consumismo, sem muita consciência de quando é o sujeito que escolhe ou é o Programa do Fantástico que induziu aquele produto através da propaganda massiva do domingo a noite. Temos um número exorbitante de estabelecimentos farmacêuticos, um em cada esquina.
Como é que os gestores de saúde vem tratando disso tudo? É possível dizer que muitas e muitas vezes sem muita qualidade e resolutividade. Hoje vemos que as respostas acabam sendo centradas em terapias puramente medicamentosas, em consultas médicas apressadas, solicitação de exames e mais exames, muitos desses desnecessários, inclusive de alto custo. Enfim, o usuário não sente que seu problema foi resolvido e nem sequer foi compreendido pelo médico.
Sendo assim pergunto: que papel pode a construção de mais pronto atendimentos exercer nesse contexto? Tenho a absoluta certeza que é a de piorar a situação! Logicamente sei que o pronto-socorro ou pronto atendimento é um serviço imprescindível no sistema de saúde de qualquer lugar do mundo. É o local onde salvamos vidas e onde podemos ter as intervenções que afastam o risco de morrer ou de agravar as doenças. É para isso que, fundamentalmente ele deve existir. Seu papel é claramente indispensável. Impossível questionar esse fato. Mas ele não pode ser o meio de se conseguir acesso para a grande maioria das necessidades de saúde. A tecnologia ali empregada, a organização do processo de trabalho é inadequada para a abordagem dessa maioria de problemas, além de muito cara. Precisamos observar com discernimento a sua natureza e finalidade.
Pelo quadro de saúde que vimos anteriormente, vê-se que as ações de saúde tem que ser exercidas pelo serviço que está no território onde as necessidades das pessoas são geradas. No bairro, na residência, na escola, no meio das famílias. Esse papel só pode ser efetivo se for exercido por equipes multiprofissionais, vinculadas à população, abolindo o isolamento do médico dentro do seu consultório e a oferta exclusiva da consulta médica como ação de saúde. E para isso a Estratégia da Saúde da Família é ideal.
Sabemos que uma unidade básica de saúde (posto de saúde) deve ser estruturada com recursos compatíveis com a população a ser atendida e assim resolver mais de 80% dos problemas de saúde no seu território. Há inúmeras provas disso ocorrendo em muitos outros municípios pelo país afora.
Porque o povo reclama então? Porque a rede básica não está cumprindo seu papel adequadamente. A população não chega a criar vínculo com os serviços e assim continua procurando prontos-socorros ou os PAS 24 horas.
Outro grande problema é o acesso aos médicos especialistas, esse é um motivo de estresse constante dos profissionais das unidades básicas. Portanto devemos pensar em racionalizar recursos qualificando os encaminhamentos para as especialidades. São muitas as questões fundamentais para a qualificação da rede básica. Várias pesquisas e levantamentos dos serviços tem nos mostrado que mais de 60% dos atendimentos dos prontos-socorros não deviam ser feitos ali. Os pacientes seriam melhor atendidos na unidade básica com mais eficácia e qualidade. Sabemos também, pelas prestações de contas da própria secretaria de saúde, que os custos da manutenção de um pronto-socorro é igual ao de muitas unidades básicas somadas.
Se insistirmos em construir mais pronto atendimentos vamos certamente perpetuar essa distorção. Reproduzimos de maneira infindável consultas, exames, administração inadequada de medicações, e o pior, após isso tudo ainda ficamos com a sensação de estar enxugando gelo ou apagando pequenos incêndios diariamente.
Precisamos potencializar a ação do atuais prontos-socorros e pronto atendimentos, com maior investimento na rede básica, porém cumprindo o seu papel que é fundamental nesse quadro anteriormente esboçado. Priorizar é preciso! A tentação de inaugurar pronto atendimento pode ser grande para os gestores e para os usuários do sistema que penam nas eternas filas também. Mas criar prontos atendimentos sem investir na rede básica, não resolverá os problemas de saúde. Apenas perpetuará distorções e implicará em emprego de recursos preciosos em ações pouco eficazes. Temos inclusive que ampliar o horário de funcionamento de algumas unidades para o período noturno até às 22 horas. Além disso, temos que qualificar a gestão dos nossos serviços, dando-lhes estrutura compatível com a sua complexidade, corrigindo algumas distorções inclusive a de descompromisso com o seu público. Temos que radicalizar nas propostas de humanização. Esse é o caminho possível no meu entendimento.
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