Nos últimos meses, especialmente durante a campanha eleitoral para presidente da república, ouvimos em prosa e em verso que a situação dos brasileiros nos últimos anos melhorou bastante. É bem verdade que os próprios números apresentados, e comparando com o passado não muito distante, a evolução foi realmente para melhor, não há muitas dúvidas quanto a isso. Porém analisando comparativamente o Brasil com outros países da América Latina, no item economia e distribuição de renda, fiquei com certa preocupação quanto à velocidade dessa melhoria, ou dizendo de outra forma, qual a velocidade da diminuição da pobreza no Brasil.
Apesar dos esforços que o governo federal empreendeu nesses últimos dez anos, sabemos que muito ainda precisa ser feito, ainda mais que o Brasil é a sétima economia do mundo e o país mais rico da nossa região. Foi corrente nos últimos dias, a série de críticas que o governo da presidenta Dilma Rousself enfrentou quando divulgou o aumento dos valores do Programa Bolsa Família. Portanto vamos a alguns números que nem sempre são de conhecimento público, para não ficamos na crítica pela crítica, tão comum nos meios políticos.
O Brasil dedica ao combate a pobreza ( transferência de renda para os mais pobres ) apenas 0,58 do seu Produto Interno Bruto, enquanto a Argentina gasta 0.70, o Paraguai 0,92 e a Guatemala 3.0. É só parar para pensar um pouco e ver que esses números já deixam sob suspeita o verdadeiro desejo do governo brasileiro em diminuir a pobreza no país, pois os demais países acima apresentados são certamente muitas vezes mais pobres que o Brasil, exceto neste caso a própria Argentina, pois os demais não temos muitas dúvidas.
Outra comparação que devemos fazer é em quanto ( a velocidade ) que essa taxa de pobreza reduziu, pois avaliando o Brasil apenas com seu próprios processo de evolução, fica claro as melhorias, porém vamos comparar com outros países com níveis de pobreza igual ou maiores que o nosso. Entre 2008 e 2009, enquanto o Brasil, Peru, o Paraguai e o Panamá reduziram sua taxa de pobreza entre 0,9 e 2,2 %, o Uruguai e a República Dominicana reduziram suas taxas de pobreza em mais de 3%. Além do que no Brasil a taxa de indigência mostrou uma pequena queda, e na Colômbia, Panamá, Peru, República Dominicana e no Uruguai, essa taxa foi mais significativa. Nunca é demais lembrar que indigente é aquele indivíduo que não tem renda suficiente para adquirir uma cesta alimentar que atenda às suas necessidades nutricionais.
Outro indicador muito sensível a população de baixa renda, é quanto ao poder de compra e o valor do salário mínimo, tema de acaloradas discussões no mês de fevereiro no Congresso Nacional em função da dúvida quanto as possibilidade reais de aumentar em R$ 30,00, R$ 40,00 ou R$ 50,00 reais a mais. Vamos seguir a mesma lógica anterior, comparando com nossos ilustres vizinhos. O salário mínimo no Brasil é de US$ 286,00, na Argentina é de US$896,00, no Paraguai é de US$ 559,00, no Equador é de US$ 490,00, na Venezuela é de US$ 481,00. Fica a pergunta: porque tamanha diferença?
Para finalizar e não deixamos nossa avaliação nas questões meramente econômicas, podemos comparar nosso IDH ( Índice de Desenvolvimento Humano ) que utiliza vários parâmetros e critérios comparativos, e somos tomados de tristeza quando sabemos que o nosso IDH é de 0,699, que deixa o Brasil em 73ª lugar entre os 169 países pesquisados, bem abaixo do Chile ( 45ª ), Argentina ( 46ª ), Uruguai ( 52ª ), México ( 56 ª ) e Peru ( 63ª ). Parece que nossa alegria com nossos bons números não se sustentam frente a um simples comparativo com países tão parecidos e próximos de nós. Portanto, tenho a sensação que estamos fazendo muito pouco do que poderíamos estar fazendo, apesar de toda a propaganda oficial, não livrando o Brasil do restrito clube de países em que a riqueza é muito concentrada nas mãos de poucos. É por aí que devemos cobrar de nossos representantes no Legislativo, e da própria presidenta da república, a discussão mais do que urgente da tão sonhada reforma tributária, porque não podemos ficar “ad eternum” sob as benesses de programas sociais que apenas atenuam nossos problemas, mas não atacam no seu âmago a causalidade dos mesmos, deixando nossos irmãos brasileiros sempre reféns da “caridade” de nossos dirigentes, alguns com interesses basicamente eleitoreiros.
Sendo assim, sempre que ouvirmos os bons indicadores brasileiros, não deixe de acreditar, mas vá atrás de mais informações, pois é importante comparamos com outros países do mesmo porte ou até menores, para que possamos avaliar a extensão desse nosso processo.
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