quinta-feira, 3 de março de 2011

Imobilismo da sociedade.

Dias atrás estive conversando com um grupo de profissionais de saúde sobre a participação popular no Sistema Único de Saúde (SUS), tarefa essa garantida na Constituição Federal de 1988 e conquistada a duras penas após longos anos de ditadura militar, e muita batalha de ilustres personalidades dos quatro cantos desse Brasil.

Durante a referida conversa que teve como ponto de partida alguns questionamentos relativos a como aquele grupo estava vendo ou mesmo participando desse processo de participação junto a comunidade onde os mesmos estavam inseridos, quer dizer, trabalhando. Logo ficou claro pelas manifestações dos presentes o marasmo geral e o sentimento de descrédito em que se encontravam, tanto eles mesmos, tanto quanto as comunidades em que eles atuavam.

Com essa minha constatação, que já vem de longa data, gostaria de iniciar uma rápida reflexão dessa realidade. Vou começar levantando algumas situações concretas que tenho visto nesses últimos dez anos.

Vivi alguns momentos históricos, principalmente quando era jovem, há 25 anos atrás, situações, em especial dentro da universidade enquanto estudante, de enfrentamentos políticos que sempre traziam no mínimo, questões a serem repensadas e que deixavam como consequências, alguns avanços. Tudo isso em meio com um tempero ideológico. Agora pergunto: E nesses últimos dez anos, como que a sociedade brasileira, em especial suas lideranças políticas tem se comportado? Não podemos negar que o Brasil como um todo, avançou muito economicamente nesses últimos anos, mas em contrapartida todo o processo político foi marcado por acentuadas conciliações de interesses, e não de enfrentamentos, e também de grande centralismo no tocante ao poder de fogo do Governo Federal.

Vejamos alguns exemplos concretos:

- O Estado, leia-se governo federal, é muito forte e centralizador. 65% do orçamento público está concentrado na execução da União, forçando os prefeitos e governadores a dependerem de convênios estabelecidos com os ministérios, para tentar concretizar algumas importantes obras em âmbito municipal. Quer dizer, nossos gestores municipais e estaduais, vivem de “pires na mão” para garantir o repasse de recursos do BNDES e ou do PAC, por exemplo.

- De outro lado, muitos daqueles movimentos sociais dos anos 80, e muitas dessas lideranças, acabaram sendo institucionalizadas. Onde se encontra aquele MST tão temido anos atrás? Até parece que a Reforma Agrária saiu definitivamente do papel. Onde está a União Nacional dos Estudantes (UNE) tão respeitada naquela época, e com um poder de mobilização nacional que dava inveja, está hoje, praticamente apagada. E o que dizer das lideranças das grandes centrais sindicais, como a CUT e a Força Sindical, hoje a maioria estão ocupando importantes cargos dentro do governo federal, ou das estatais, com altos salários, longe da realidade da maioria dos trabalhadores.

Os partidos políticos como forma de expressão estão cada vez mais superados pelo tempo, e em especial os partidos de oposição estão completamente em frangalhos. Alguns estão sobrevivendo a duras penas. Perderam a vitalidade do processo de discussão e de propostas realistas e inovadoras, e consequentemente perderam o apoio e o respaldo popular.

Enfim, acho que precisamos ser mais ousados, e resgatar aquela velha energia que tanto alimentou uma juventude ansiosa por liberdades e uma efetiva Democracia lá pelos idos dos anos 80, que acabou resultando numa Constituição Cidadã. Nossos movimentos sociais, isso inclui desde as associações de moradores até as grandes organizações de caráter nacional perderam o protagonismo de sujeitos, a ousadia de avançar cada vez mais. Somos Estado-dependentes, e o pior, estamos fragmentados e com uma postura eminentemente individualista.

Enfim, estamos bem socioeconomicamente falando, mas estamos retrocedendo no campo político. Tenho medo que a população não veja mais utilidade na Democracia, pois desde que sua condição de vida esteja atendida suficientemente bem, o resto não teria mais importância.


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