
Fui convidado a falar no Colégio Estadual Dr. Gastão Vidigal, em Maringá, sobre o tema Ética e Valores. Esta instituição é uma das mais conceituadas do Paraná, considerada, segundo uma amiga que a freqüentou no passado, como a Harvard de Maringá. Preparei um roteiro baseado nas obras Ter ou Ser? (Erich Fromm) e Ética (Adolfo Sánchez Vázquez). Contudo, diante do perfil do público, composto em sua maioria por mães, optei por estabelecer uma conversa sobre os dilemas atuais que enfrentamos. Evitei o tom professoral e me esforcei para não proferir uma “aula”, até porque não sou especialista no assunto nem filósofo profissional. Foi melhor!Mais do que as minhas palavras, o importante foram as questões levantadas. Vivemos uma época em que os valores estão em crise? Estamos ante uma crise de autoridade no âmbito familiar e escolar? Os pais e mães cumprem o seu papel ou transferem suas responsabilidades para a escola? O que pensar de situações em que os pais admitem a derrota, alegam não saber o que fazer para colocar os filhos “na linha” e deixam a critério da escola e/ou do Conselho Tutelar? O que dizer das dificuldades enfrentadas pelos professores, em especial a indisciplina, o desrespeito em sala de aula e os arrogantes filhinhos mimados?* Como entender o desespero dos pais diante do filho “problema”, quando eles têm a certeza de que fizeram a coisa certa e não negligenciaram quanto ao amor e a educação? “Onde foi que errei?”, perguntam-se. O que falar aos pais dos jovens que agem irresponsavelmente? Como confortar pais e mães que vêem os filhos desinteressados e prisioneiros dos vícios?Se problemas como estes fazem parte do cotidiano de uma escola bem estruturada e localizada na área central da cidade, imagino como está a situação na sua periferia, no Estado e país. Conheço escola privada que adota a pedagogia da vigilância, instala câmeras que filmam até a sala de aula, e nem assim controlam as turmas. São escolas freqüentadas por jovens cujos pais têm poder aquisitivo. E as vezes a indisciplina é apresentada como um problema restrito à periferia. Alguns até pensam que só ocorre em países como o Brasil.O que fazer?, perguntam educadores angustiados e quase desesperançados. Claro, preocupa-nos quando os limites do respeito e da convivência parecem inexistentes. Mas é importante evitar a paranóia coletiva e reconhecer que o conflito é próprio das relações humanas. Os embates entre as gerações também se repetem, até porque cada época produz um tipo de formação vinculado a determinados valores, contestados pela geração seguinte. Por outro lado, a escola reflete a sociedade e não é uma ilha isolada onde reina a cultura e o saber. É preciso, inclusive, se perguntar sobre os objetivos, quem define e a quem serve o conteúdo.Alguém perguntou aos jovens o que eles pensam sobre essas questões? A rebeldia não é uma forma de afrontar a visão de mundo dos adultos? Talvez esqueçamos que também fomos jovens, que é próprio dessa idade o desafio às normas disciplinares e que a contestação também contribui para formar indivíduos críticos. Almejamos educar nossos jovens ou adestrá-los? É preciso, pelo menos, tentar entender os motivos que os levam a se rebelar.Os dilemas são muitos e as respostas diversas. Mas talvez a persistência do modelo educacional, que reproduz os mesmos métodos do nosso tempo, apesar dos jovens de hoje viverem uma realidade muito diferente, ajude a compreender. Talvez falte a coragem de admitir que o modelo faliu e de perguntar porque, apesar disso, ele persiste.Agradeço à professora Sueli pelo convite e espero ter contribuído para a reflexão sobre as angústias e dilemas que, afinal, compartilhamos.
Autor: Antônio Ozaí da Silva
Autor: Antônio Ozaí da Silva
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