quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Ética e Política


por Inês do Amaral Büschel

Partindo-se do princípio de que a ética compreende um juízo de apreciação de atos qualificados como bons e maus e, por outro lado, que política é a arte de viver na cidade, no coletivo, não há como separarmos ética de política.
Para vivermos em sociedade e em paz, devemos obedecer regras de comportamento coletivo, que estejam baseadas no que é considerado bem comum, ou seja, de interesse público. Numa república democrática essas regras devem ser justas e escolhidas em assembléia, pelo voto dos cidadãos.
Quando o comportamento político de um representante eleito pelo povo é desviado para seu próprio interesse pessoal ou de seu pequeno grupo, há reação popular. É natural e sadio que isso aconteça. Assim deve ser numa democracia.
Nós, o povo, ficamos sabendo desses desvios éticos por intermédio dos meios de comunicação: rádio, TV , imprensa escrita e agora, felizmente, pela internet. Daí a suprema importância da “imprensa livre”, ou seja, da liberdade dos meios em nos informar o que se passa no parlamento, no judiciário e na administração pública em geral.
No mundo moderno, entretanto, nas grandes cidades com milhões de habitantes e com vexatória desigualdade social, a vida em sociedade é muito complicada.
Todavia, temos de encontrar formas de participação política e não nos deixarmos pautar apenas pela imprensa livre, pois sabemos também, que ela poderá deixar de nos informar algo de nosso interesse e, além disso, há um fenômeno mediático muito poderoso denominado “espiral do silêncio” que significa o seguinte: a mídia bate duro em um ponto até a exaustão, impondo o silêncio aos que não concordam com a opinião que ela irradia sem parar. As pessoas que discordam ficam com vergonha de “estar por fora” e se calam.
Quanto à corrupção, seja na política partidária, nas empresas privadas ou no serviço público, nós não a podemos tolerar em hipótese alguma. A honestidade é um valor tanto na nossa vida pessoal como na vida pública.
Ao cidadão que recebe mandato popular ou exerça função pública não se dá licença para desviar-se do interesse público e muito menos de fazer uso pessoal do dinheiro destinado a assegurar ao povo saúde, educação, segurança etc.
Entretanto, precisamos entender que política partidária é inerente às democracias representativas. Notamos, de fato, que todos os partidos políticos escrevem seus programas de ação de maneira mais ou menos igual e com propostas semelhantes, que sejam aceitáveis pela maioria da população. Daí fica muito difícil para os cidadãos poderem distinguir as diferenças e acabam votando em pessoas e não em partidos, o que é um erro.
Por outro lado, sabemos que para ser candidato a algum cargo eletivo é preciso ter muito dinheiro, pois as campanhas políticas são caríssimas. Então, a democracia fica de pé quebrado para os pobres, pois estes não têm como candidatar-se. Por isso seus interesses são pouco contemplados no Parlamento.
Se queremos uma democracia real, representativa e participativa, teremos que mudar muita coisa no Brasil. A começar pela educação política dos jovens e adultos. Precisamos todos saber como funcionam os partidos e sem sombra de dúvida, temos de saber de onde sai o dinheiro das campanhas de candidatos.
Por isso seria salutar termos financiamento público de campanhas, pois todos os partidos receberiam quantias pré-determinadas e os sem recursos teriam oportunidade de concorrer aos cargos eletivos. Além disso, poderíamos fiscalizar melhor a fidelidade partidária e exigir transparência absoluta na aplicação do dinheiro, reduzindo-se ao máximo a possibilidade de improbidade.
Não se iluda, porém, com a possibilidade da não existência de políticos. Eles são frutos de lutas intensas da humanidade pela criação de repúblicas democráticas. Sem eles não haverá paz, só guerras e ditaduras.
Por último, gostaria de lembrar que a corrupção não é delito peculiar do povo brasileiro, mas sim de todos os povos e de todos os tempos. Quem lê jornais sabe que ainda há poucos anos um importante político alemão, aparentemente irrepreensível em sua conduta, foi flagrado envolvido em corrupção no seu partido. Com relação ao parlamento italiano, francês, japonês, argentino, norte-americano, etc não é diferente.
Portanto, o combate à corrupção é perene.

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