
Caminho pela cidade e leio as palavras escritas nas faixas estrategicamente expostas nas avenidas. Mais uma campanha de conscientização dos cidadãos contra o vilão que aflige e pode até mesmo matar: o mosquito Aedes aegypti. Como é possível que um inseto de nome tão estranho consuma tamanha energia social? Como explicar que os humanos, essa espécie arrogante que se imagina superiora e senhora da natureza, seja tão frágil diante de um simples inseto? Somos capazes de prodígios científicos e tecnológicos, mas incapazes de debelar definitivamente um mal que causa sofrimentos, e a morte.
Leio as frases, exaustivamente pensadas para sensibilizar os transeuntes, e reflito sobre a fragilidade humana. Nós, que nos consideramos superiores até mesmo em relação aos nossos semelhantes, além de compartilharmos o mesmo destino, podemos morrer por causa da picada de um inseto, um mosquito! Absorto em meus pensamentos me escapa um sorriso ao ler a seguinte frase: “Dengue: um mal que precisa de sua ajuda”. Como assim?! Não entendi. Talvez seja apenas um caso de insolação que acomete o caminhante. Será que o coitadinho do mosquito precisa da minha ajuda? Ou preciso ajudar a dengue? Descarto que tenha sido convocado a ajudar o Mal. Pessoas bem-intencionadas não fariam isso. Brinco com meus pensamentos: se o Aedes aegypti fosse alfabetizado provavelmente riria diante dessa confusão gramatical!
Compreendo, porém, a boa intenção da campanha. Prossigo. As palavras que leio confirmam que faço a minha parte, cumpro o meu dever. Elas não foram escritas para mim, mas permanecem necessárias. Isso me intriga. Não é a primeira campanha contra a dengue. Os meios de comunicação repetem os mesmos slogans e orientações. O poder público ameaça punir os cidadãos irresponsáveis que não fazem a sua parte e, assim, favorecem a reprodução do mosquito e expõe os vizinhos ao perigo. A Cruzada se estende às escolas e outros ambientes públicos. Por que, então, não produz os resultados esperados? Por que ainda é necessário conclamar os habitantes da cidade a agirem em prol deles mesmos?
Afinal, é neste espaço geográfico que vivemos, produzimos e reproduzimos a vida. Embora nos recolhamos em nossos “portos seguros”, compartilhamos o mesmo espaço. A cidade, para o bem ou para o mal, é uma criação humana coletiva. Podemos até não gostar ou não conhecer os vizinhos, mas as atitudes deles e as nossas, diante dos problemas comuns à cidade, são fundamentais. Ainda que prevaleça o individualismo, em detrimento da comunidade, não vivemos isolados. O que acontece na cidade diz respeito a todos.
Por que permanece a necessidade de conscientizar os cidadãos a se responsabilizarem pela saúde da cidade? É certo que as condições socioeconômicas que cindem a sociedade e estabelecem desigualdades reais, ainda que a lei afirme a igualdade jurídica, têm influência. Aqueles que mal podem garantir a sobrevivência talvez até concebam a possibilidade da morte, causada pela dengue hemorrágica, como uma fatalidade ou mesmo a vontade divina. Incrivelmente, este pensamento é compartilhado por cidadãos mais aquinhoados. Assim, pede-se ao poder público que nos livre do Mal e também recorre-se a Deus. O mosquito, também ele uma criação divina, continua a aterrorizar a cidade.
A questão é política. O poder público deve ser cobrado e denunciado. A cidade, porém, não se restringe às autoridades públicas. Se continuarmos a agir como tutelados e dependentes, transferindo nossas responsabilidades individuais e coletivas ao Estado, a dengue e outras doenças sociais calamitosas permanecerão entre nós.
Leio as frases, exaustivamente pensadas para sensibilizar os transeuntes, e reflito sobre a fragilidade humana. Nós, que nos consideramos superiores até mesmo em relação aos nossos semelhantes, além de compartilharmos o mesmo destino, podemos morrer por causa da picada de um inseto, um mosquito! Absorto em meus pensamentos me escapa um sorriso ao ler a seguinte frase: “Dengue: um mal que precisa de sua ajuda”. Como assim?! Não entendi. Talvez seja apenas um caso de insolação que acomete o caminhante. Será que o coitadinho do mosquito precisa da minha ajuda? Ou preciso ajudar a dengue? Descarto que tenha sido convocado a ajudar o Mal. Pessoas bem-intencionadas não fariam isso. Brinco com meus pensamentos: se o Aedes aegypti fosse alfabetizado provavelmente riria diante dessa confusão gramatical!
Compreendo, porém, a boa intenção da campanha. Prossigo. As palavras que leio confirmam que faço a minha parte, cumpro o meu dever. Elas não foram escritas para mim, mas permanecem necessárias. Isso me intriga. Não é a primeira campanha contra a dengue. Os meios de comunicação repetem os mesmos slogans e orientações. O poder público ameaça punir os cidadãos irresponsáveis que não fazem a sua parte e, assim, favorecem a reprodução do mosquito e expõe os vizinhos ao perigo. A Cruzada se estende às escolas e outros ambientes públicos. Por que, então, não produz os resultados esperados? Por que ainda é necessário conclamar os habitantes da cidade a agirem em prol deles mesmos?
Afinal, é neste espaço geográfico que vivemos, produzimos e reproduzimos a vida. Embora nos recolhamos em nossos “portos seguros”, compartilhamos o mesmo espaço. A cidade, para o bem ou para o mal, é uma criação humana coletiva. Podemos até não gostar ou não conhecer os vizinhos, mas as atitudes deles e as nossas, diante dos problemas comuns à cidade, são fundamentais. Ainda que prevaleça o individualismo, em detrimento da comunidade, não vivemos isolados. O que acontece na cidade diz respeito a todos.
Por que permanece a necessidade de conscientizar os cidadãos a se responsabilizarem pela saúde da cidade? É certo que as condições socioeconômicas que cindem a sociedade e estabelecem desigualdades reais, ainda que a lei afirme a igualdade jurídica, têm influência. Aqueles que mal podem garantir a sobrevivência talvez até concebam a possibilidade da morte, causada pela dengue hemorrágica, como uma fatalidade ou mesmo a vontade divina. Incrivelmente, este pensamento é compartilhado por cidadãos mais aquinhoados. Assim, pede-se ao poder público que nos livre do Mal e também recorre-se a Deus. O mosquito, também ele uma criação divina, continua a aterrorizar a cidade.
A questão é política. O poder público deve ser cobrado e denunciado. A cidade, porém, não se restringe às autoridades públicas. Se continuarmos a agir como tutelados e dependentes, transferindo nossas responsabilidades individuais e coletivas ao Estado, a dengue e outras doenças sociais calamitosas permanecerão entre nós.
Por Antonio Ozaí da Silva
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