
Quando as minhas filhas eram crianças, eu as levava às minhas aulas. Isto atraía a atenção dos meus alunos. Eu brincava: “Trago-as para que vejam que eu trabalho!” Claro, elas ficavam pouco tempo na sala e, finda a curiosidade, saíam e iam se divertir no campus, orientadas para que não se afastassem do prédio onde estávamos. Terminava a aula e lá ia eu procurá-las nos arredores. Eu me divertia e imagino que elas também. Além do mais, era uma maneira de incentivá-las a estudar e ter no horizonte a perspectiva de fazer um curso superior.Elas cresceram em meio aos livros, meus estudos e as atividades típicas de um professor (preparar aula, ler os trabalhos dos alunos etc.). Desde crianças foram estimuladas a ler. Para mim, os livros são o alimento para a alma e, portanto, tão importantes quanto o arroz e o feijão. Por isso, mesmo diante das dificuldades financeiras, sempre dava um jeito para que tivessem acesso à leitura. Hoje, uma faz o curso de Letras e a outra Arquitetura. A caçula está se preparando para prestar o vestibular. Mérito delas! Mas tenho certeza de que o meio e as condições em que viveram também contribuíram. De qualquer forma, posso afirmar com sinceridade: tenho orgulho das minhas filhas!Aprendo muito com elas. Às vezes fico estarrecido diante do que me falam das experiências de estudantes. Elas questionam algumas práticas professorais. Argumento, então, que professores são humanos e, portanto, possuem as fragilidades inerentes a estes. Em qualquer nível de estudo, há aqueles com os quais nos identificamos e os que não; há os que desempenham bem suas atividades, ou pelo menos demonstram esforço, e outros não; há os apaixonados pelo que fazem e os que, na linguagem dos estudantes, “enrolam” e fazem de conta que dão aula, enquanto eles fazem de conta que têm aula. Termina por se constituir um pacto de hipocrisia. Porém, em qualquer dos casos, os professores educam pelo exemplo. Uns expressam bons exemplos, outros seriam reprovados se confrontados com critérios profissionais e éticos.Educar é, sobretudo, uma atitude. Claro, a função do professor é ensinar, e isto significa passar conteúdo. A prática educativa é mediada por este. O método para ensinar é importante, pode favorecer ou dificultar o aprendizado. Mas a práxis educativa não se limita à transmissão de conteúdos. É, essencialmente, uma relação humana. Nesta confrontam-se cotidianamente as subjetividades dos alunos e professores. O aluno não é apenas “o aluno” em sua universalidade, mas sim um indivíduo particular e concreto, com sentimentos, sonhos, fragilidades e uma história de vida que, em geral, o professor desconhece. Da mesma forma, o professor não é uma abstração universal, mas alguém cuja trajetória de vida marca e influencia a sua individualidade e práxis. Por outro lado, como ser humano genérico, compartilha de muitas das características dos seus alunos.O que fica é o exemplo da atitude. Não me lembro dos meus professores pelo conteúdo que ensinaram, mas por suas ações enquanto indivíduos. Tenho em alta estima aqueles que, mais do que conteúdos, me deixaram exemplos de vida, modelos a se espelhar. Mas também não me esqueço dos que deram exemplos recusáveis. Todos os professores são importantes, inclusive aqueles que nos ensinam, através das atitudes, o que não devemos fazer. Se há algo que salta aos olhos na relação professor-aluno e pais-filhos, é a incoerência entre o discurso e a prática. Disto, nem mesmo os professores que se consideram ideologicamente revolucionários estão livres. Com o agravante de que, nestes casos, prestam um desserviço à própria causa que professam. A prática continua sendo o critério da verdade.
Escrito por Antonio Ozaí da Silva
Escrito por Antonio Ozaí da Silva
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