domingo, 9 de março de 2008

A farra das ONGs e o castigo de Sísifo



Levantamento feito pelo boletim "Congresso em Foco" com base no Siafi (sistema onde são registrados gastos públicos) revela que o governo federal despejou R$ 13,1 bilhões em oito anos para 9.259 entidades do chamado "terceiro setor", as ONGs. Na média do período, R$ 1,6 bilhão ao ano foi repassado a essas entidades.
Trata-se de uma grossa soma de dinheiro, em qualquer moeda ou lugar do mundo.
Em um país cheio de carências e desigual como o Brasil, é bom que esse tipo de atividade exista. ONGs e entidades sérias ligadas a atividades sociais têm melhores condições de conhecer as necessidades de seus atendidos do que deputados e burocratas em Brasília, mais concentrados em suas próprias necessidades.
Muitas ONGs nasceram da indignação de determinadas pessoas com o que viam à sua volta. E resolveram agir. Por isso, o sistema guarda uma capilaridade importantíssima. Pode atender pessoas e situações que sequer sabemos existir.
Fatos recentes, porém, revelam que há algo de muito podre no reino das ONGs.
Nos últimos dias, ficamos sabendo que mais de R$ 70 milhões foram destinados a amigos, doadores de campanha e parentes que comandam ONGs ligadas ao PDT. O partido é presidido pelo ministro Carlos Lupi (Trabalho). É do seu ministério que o dinheiro sai.
Já as verbas que deveriam ser usadas para treinar jovens foram parar ou em um asilo de idosos presidido por político do PDT ou em igreja evangélica que nunca treinou ninguém. Mas que tem seu "diretor político" como filiado ao partido de Lupi.
Soubemos também que outras ONGs ligadas ao PC do B, partido do ministro do Esporte, Orlando Silva, receberam R$ 14 milhões. A que mais embolsou verbas é comandada por um colega do ministro no Comitê Central do PC do B.
Não apenas os convênios são acintosamente suspeitos, mas é também suspeitíssima a posição do presidente Lula em relação aos casos.
Além de defender Lupi com unhas e dentes antes mesmo de uma investigação séria, houve enorme resistência do governo Lula e de partidos aliados em apoiar a chamada CPI das ONGs. O embrião da CPI foram suspeitas em torno da ONG Unitrabalho, que recebeu mais de R$ 18 milhões na gestão Lula. A ONG tem como colaborador o petista Jorge Lorenzetti, "aloprado e churrasqueiro oficial" do presidente.
Após meses de protelações e impedimentos, agora finalmente a CPI das ONGs está em atividade no Senado, se é que podemos dizer isso. Sua atuação é tão desfocada e pulverizada que não produziu nada que preste até agora. Ao que parece, é outra CPI que servirá somente para os partidos manterem alto o nível de chantagem entre si enquanto sangram o setor público com a outra mão. O jogo de sempre.

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