Bruno Dominguez
Em 18 de janeiro, representantes de entidades do movimento sanitário participaram de reunião na Fiocruz com o ministro José Gomes Temporão, para um balanço de sua gestão em 2007. As intervenções sobre ações específi cas do governo federal na área da saúde acabaram ofuscadas por análises da atuação de outro “poder”: a mídia. Nem mesmo a extinção da CPMF foi tão discutida. Sob o impacto dos erros na cobertura dos casos de febre amarela, que disseminou pânico em vez de informação (Radis 66), os sanitaristas criticaram a maneira com que a imprensa trata as questões da saúde pública. Temporão foi o primeiro a se referir ao tema, lembrando que o Brasil O SUS na mira da mídia vivia, naquele mês, “uma epidemia midiática”. Ele creditou aos exageros na divulgação dos casos da doença a formação de filas intermináveis até em cidades fora da área de risco de contaminação, como o Rio de Janeiro. Pessoas que não viajariam para áreas de risco, lamentou, insistiam em ser imunizadas.
A partir de 2007, a saúde pública ganhou espaço na mídia, na visão do ministro, “tanto para o bem quanto para o mal”. Para o bem, debates que estavam circunscritos ao setor — como a restrição à propaganda e à venda nas estradas de bebidas alcoólicas, a descriminalização do aborto e o licenciamento compulsório de medicamentos — finalmente ocupam manchetes e mobilizam a sociedade. Para o mal porque determinados veículos e colunistas “atacam ideologicamente” a saúde pública. “Um colunista chegou a afi rmar que o problema do SUS não é a gestão, mas o próprio SUS”, lembrou Temporão. Diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães concordou: “Em 2006, só se falava em segurança e educação; o ministro conseguiu recolocar a saúde na agenda”. Segundo ele, num primeiro momento a mídia “adotou” Temporão, mas agora a conjuntura mudou. Depoimentos de outros sanitaristas engrossaram a percepção de que a saúde continuará enfrentando resistência — por parte da imprensa e de certos setores da sociedade. A professora Ligia Bahia disse acreditar que os ataques ao sistema público de saúde serão ainda mais sistemáticos neste 2008, devido às eleições municipais. “Precisamos resistir ao avanço da hostilidade à universalidade”, conclamou a conselheira nacional, uma das diretoras do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes). Temporão foi além. Para ele, a quantidade de críticas da imprensa ao SUS aumentará até 2010, ano em que será eleito o sucessor de Lula na presidência. Depois da febre amarela, previram os sanitaristas, o foco se voltará para a dengue, para as fi las nas portas dos hospitais. “Enquanto a crise assistencial não for superada, a mídia e os políticos se aproveitarão dela”, concluiu o professor Luiz Antônio Silva Neves, também do Cebes. O ministro defendeu que os sanitaristas aproveitem as comemorações dos 20 anos da Constituição que consagrou a saúde como direito de todos e dever do Estado para fazer frente ao discurso privatista. Para isso, concordaram os presentes, é necessário recompor as alianças do SUS. “Precisamos reconhecer o fortalecimento das entidades de trabalhadores e trabalhar com essas parcerias”, sugeriu o pesquisador José da Rocha Carvalheiro, presidente da Associação Brasileira de Pós- Graduação em Saúde Coletiva. Presidente do Cebes, a cientista política Sonia Fleury analisou a atuação do governo, em sua opinião nem sempre coerente no tratamento do SUS. Para ela, em momentos de crise, “quem segura” é o movimento social. Outra sugestão foi a ampliação dos espaços de discussão para além de conselhos e conferências — aliás, o ministro voltou a criticar a 13ª, dizendo-se decepcionado com a falta de resultados. No encerramento, Temporão prometeu pensar numa estratégia mais ágil para a circulação de informações corretas sobre saúde, no dia-a-dia ou nos momentos de maior tensão. Mas, ressalvou, sem se descuidar das grandesquestões nacionais: “Não consigo ser um ministro com estratégias pobres, dedicado apenas a cumprir burocracias”. A.D.
A partir de 2007, a saúde pública ganhou espaço na mídia, na visão do ministro, “tanto para o bem quanto para o mal”. Para o bem, debates que estavam circunscritos ao setor — como a restrição à propaganda e à venda nas estradas de bebidas alcoólicas, a descriminalização do aborto e o licenciamento compulsório de medicamentos — finalmente ocupam manchetes e mobilizam a sociedade. Para o mal porque determinados veículos e colunistas “atacam ideologicamente” a saúde pública. “Um colunista chegou a afi rmar que o problema do SUS não é a gestão, mas o próprio SUS”, lembrou Temporão. Diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães concordou: “Em 2006, só se falava em segurança e educação; o ministro conseguiu recolocar a saúde na agenda”. Segundo ele, num primeiro momento a mídia “adotou” Temporão, mas agora a conjuntura mudou. Depoimentos de outros sanitaristas engrossaram a percepção de que a saúde continuará enfrentando resistência — por parte da imprensa e de certos setores da sociedade. A professora Ligia Bahia disse acreditar que os ataques ao sistema público de saúde serão ainda mais sistemáticos neste 2008, devido às eleições municipais. “Precisamos resistir ao avanço da hostilidade à universalidade”, conclamou a conselheira nacional, uma das diretoras do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes). Temporão foi além. Para ele, a quantidade de críticas da imprensa ao SUS aumentará até 2010, ano em que será eleito o sucessor de Lula na presidência. Depois da febre amarela, previram os sanitaristas, o foco se voltará para a dengue, para as fi las nas portas dos hospitais. “Enquanto a crise assistencial não for superada, a mídia e os políticos se aproveitarão dela”, concluiu o professor Luiz Antônio Silva Neves, também do Cebes. O ministro defendeu que os sanitaristas aproveitem as comemorações dos 20 anos da Constituição que consagrou a saúde como direito de todos e dever do Estado para fazer frente ao discurso privatista. Para isso, concordaram os presentes, é necessário recompor as alianças do SUS. “Precisamos reconhecer o fortalecimento das entidades de trabalhadores e trabalhar com essas parcerias”, sugeriu o pesquisador José da Rocha Carvalheiro, presidente da Associação Brasileira de Pós- Graduação em Saúde Coletiva. Presidente do Cebes, a cientista política Sonia Fleury analisou a atuação do governo, em sua opinião nem sempre coerente no tratamento do SUS. Para ela, em momentos de crise, “quem segura” é o movimento social. Outra sugestão foi a ampliação dos espaços de discussão para além de conselhos e conferências — aliás, o ministro voltou a criticar a 13ª, dizendo-se decepcionado com a falta de resultados. No encerramento, Temporão prometeu pensar numa estratégia mais ágil para a circulação de informações corretas sobre saúde, no dia-a-dia ou nos momentos de maior tensão. Mas, ressalvou, sem se descuidar das grandesquestões nacionais: “Não consigo ser um ministro com estratégias pobres, dedicado apenas a cumprir burocracias”. A.D.
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