
Postado por Luiz Weis em 2/3/2008 às 2:53:09 PM
Pela oportunidade, antes de mais nada, e pela qualidade do material publicado, os jornais deste fim de semana entregaram o que o leitor teria o direito de esperar sobre o julgamento no Supremo Tribunal Federal, marcado para quarta, 5, da ação que pede a proibição das pesquisas com células-tronco embrionárias para fins terapêuticos.
Liberadas, sob estritas condições, pela Lei de Biossegurança, de 2005, as pesquisas destruiriam vidas humanas, no entender do autor da ação, o ex-procurador-geral Claudio Fontelles. É o que sustenta a Igreja, na contramão da grande maioria dos cientistas – e da população, a julgar por uma sondagem divulgada pela Folha de hoje.
Três em cada cinco brasileiros – e 97% dos entrevistados com instrução superior – concordam com o enunciado de que “apoiar as pesquisas para uso de células-tronco embrionárias para o tratamento e recuperação de pessoas com doenças graves é uma atitude em defesa da vida”.
Além do noticiário, a Folha e o Globo defendem as pesquisas em editoriais, quanto mais não seja em nome do caráter laico do Estado brasileiro. E o Estadão abriu espaço a um persuasivo artigo, na mesma linha, dos ministros da Saúde, José Gomes Temporão, e de Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende.
A propósito da separação entre Igreja e Estado, muito feliz o registro da reportagem “Corte católica decidirá futuro da ciência’, de Silvana de Freitas e Johanna Nublat, na Folha de hoje:
“A decisão [do Supremo] será tomada em um plenário que ostenta na parede um crucifixo, polêmica tradição em órgãos públicos, dado que o Estado brasileiro é laico.”
A questão filosófica de fundo é se o blastocisto - o aglomerado de uma centena de células que se formam nos primeiros dias do desenvolvimento de um embrião – pode ser considerado “vida”. Esse é o material genético com que trabalham os cientistas para dele extrair as células-tronco.
Para a Igreja, a vida começa na concepção, uma crença a que ela e os seus seguidores têm pleno direito, mas não podem impôr a quem pense de outro modo.
Uma visão distinta dessa está no artigo “A vida humana segundo a razão”, do cientista político Giovanni Sartori, publicado originalmente no Corriere della Sera, de Roma, e transcrito no Estado há exatos três anos, quando da votação da Lei de Biossegurança.
Sartori [como registrei
para o Observatório da Imprensa, à época] distingue vida de vida humana. No limite, essa distinção está na auto-consciência.
Todos os seres dotados de sistema nervoso sofrem fisicamente. Mas o homem também sofre psicologicamente e espiritualmente.
“Digamos, então”, escreve Sartori, “que a vida humana começa a ser diferente, radicalmente diferente daquela de qualquer outro animal superior, quando o ser humano começa a ‘dar-se conta’”.
Por isso também se diz que a vida cessa quando cessa a atividade cerebral, mas a vida humana cessa quando o ser humano perde a consciência de si.
É um critério no mínimo tão bom como qualquer outro.
Todos os seres dotados de sistema nervoso sofrem fisicamente. Mas o homem também sofre psicologicamente e espiritualmente.
“Digamos, então”, escreve Sartori, “que a vida humana começa a ser diferente, radicalmente diferente daquela de qualquer outro animal superior, quando o ser humano começa a ‘dar-se conta’”.
Por isso também se diz que a vida cessa quando cessa a atividade cerebral, mas a vida humana cessa quando o ser humano perde a consciência de si.
É um critério no mínimo tão bom como qualquer outro.
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