
O fenômeno da imprensa irresponsável não é apenas brasileiro, e a chamada imprensa tablóide da Inglaterra se celebrizou por essa característica.O fato é que a mídia constrói celebridades instantâneas, criando para elas valores e atributos que muitas vezes não possuem.E depois que passa o efeito dos quinze segundos de fama, persistem aqueles atributos como sendo verdadeiros, mesmo que os fatos os desmintam.O leitor, a leitora, certamente ainda acha que a brasileira Andréia Schwartz, deportada dos Estados Unidos no final de semana, foi uma das responsáveis pela queda do ex-governador do Estado de Nova York Eliot Spitzer, certo?Pois uma publicação dessas especializadas em "gente", ou seja, em colunismo de celebridades, acaba de demonstrar que é tudo mentira.Segundo a revista Glamurama, criada pela jornalista Joyce Pascovitch, que se tornou conhecida com uma coluna na Folha de S.Paulo e um programa de conversas na televisão, a história de Andréia é uma fraude completa.O jornalista Osmar Freitas Júnior produziu para a revista o que o resto da imprensa deveria ter feito.Ele simplesmente conferiu as datas da prisão de Andréia e os fatos envolvendo o ex-governador, e observou que a moça já estava presa bem antes de começar a investigação sobre os maus hábitos de Spitzer.O escândalo estourou no começo deste ano, e Andréia já havia feito o acordo para ter a pena reduzida e ser deportada para o Brasil em 28 de janeiro de 2006, ou seja, antes de Spitzer ser eleito.Além de checar as datas, Osmar Freitas foi ouvir as autoridades. Entrevistou um detetive de Manhattan que participou das investigações e o promotor público que conduziu o caso do governador.Ficou sabendo que não apenas Andréia nunca havia trocado emails com o governador, como ouviu que, se ela tivesse alguma relação com o escândalo, não teria sido deportada, pois o processo contra Spitzer prossegue e seu testemunho seria importante. A história de que teria sido a informante da Promotoria de Nova York foi plantada por um amigo dela no tablóide The New York Post, conhecido por publicar qualquer coisa que faça vender jornal.A imprensa brasileira, em peso, comprou a mentira e criou a celebridade.Ela teve desembarque de heroína e, segundo a imprensa, já assinou contrato com aquela edificante revista da Editora Abril para posar nua.Certamente, será apresentada como "a brasileira que derrubou o governador de Nova York".O leitor e ouvinte pode estar questionando: por que estamos perdendo nosso tempo com essa bobagem?Será que não existem outros assuntos importantes na imprensa?De fato, o caso em questão não tem muita relevância.Afinal, trata-se apenas de uma aventureira usando a mídia para aquecer seus negócios.O problema é observar que, assim como compra uma ficção tão mal ajambrada, a imprensa pode agasalhar histórias capazes de destruir a reputação de pessoas honestas, produzir pânico sem motivos reais, como aconteceu no caso da febre amarela, no ano passado, ou afetar a eficácia de políticas públicas. Assim como os recursos da manipulação de fotografias permitem às revistas eróticas transformar qualquer coisa em diva, o jornalismo preguiçoso é capaz de criar mitos e perpetuar mentiras.
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